Tragédia de Mariana: Atingidos Temem que Acordo seja Insuficiente
2024-10-25
Autor: João
Londres - Na última sexta-feira (25/10), atingidos e representantes de municípios devastados pelo rompimento da Barragem do Fundão expressaram suas preocupações em Londres. Eles temem que o acordo entre as mineradoras responsáveis pela tragédia, os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e a União, não atenda às reais necessidades das comunidades afetadas e não deixe margem para futuras negociações.
As preocupações surgiram após o término da primeira fase do julgamento em Londres, que deve recomeçar em 28 de novembro. O julgamento é parte de um processo em que as mineradoras enfrentam ações legais por indenizações relacionadas à tragédia.
Uma das principais críticas dos representantes é a falta de estudos detalhados sobre o impacto da tragédia em cada município. Eles afirmam que, enquanto a ação legal na Inglaterra investiga minuciosamente os danos e as compensações necessárias, no Brasil não houve um levantamento adequado das necessidades e danos enfrentados pelas comunidades. "Precisamos de um olhar mais profundo sobre as realidades locais e os impactos contínuos, incluindo questões de saúde mental que aumentaram após o desastre", afirma Thais Ferreira, procuradora do município de Barra Longa.
Além disso, prefeituras como a de Baixo Guandu enviaram representantes a Brasília para entender os termos do acordo a ser assinado. Rodrigo Rodrigues, procurador-geral de Baixo Guandu, destaca a urgência de discutir os termos da repactuação e a necessidade de contabilizar os danos de forma justa.
A vice-prefeito de Baixo Guandu, Patrick Favarato Perutti, mostrou-se mais otimista em relação às ações na Inglaterra do que à repactuação. Ele destacou que as condições não foram discutidas adequadamente entre os municípios afetados, o que gera inseguranças em relação ao futuro.
A ruptura da Barragem de Fundão em 2015 resultou em milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração invadindo a bacia hidrográfica do Rio Doce, causando um desastre ambiental colossal. A tragédia afetou diretamente 700 mil pessoas em 46 municípios, resultando na perda de 19 vidas.
O advogado Elias Souto, coordenador do processo na Inglaterra, reafirma que muitos dos representados continuam firmes na busca pela justiça em Londres, mesmo diante da repactuação no Brasil. Ele alerta que a percepção coletiva é de que a justiça brasileira não atenderá adequadamente às expectativas e necessidades dos atingidos.
Essa insegurança se reflete na história de Simone Silva, uma mãe que viveu as consequências trágicas do desastre em uma comunidade quilombola. Ela enfatiza a urgência de soluções efetivas e justas, lembrando que muitas famílias ainda aguardam a compensação pelos danos sofridos. "Acredito que a justiça no Reino Unido pode oferecer um caminho mais claro para reparações", desabafa.
Os números são alarmantes: a tragédia significou a liberação de 45 milhões de metros cúbicos de rejeitos que se estenderam por 675 quilômetros, devastando ecossistemas e colocando em risco a saúde das comunidades locais. O montante estimado para as reparações na ação inglesa chega a 44 bilhões de dólares, impactando a vida de 620 mil vítimas, bem como de 46 prefeituras.
O desfecho do caso pode ser um divisor de águas para as vítimas da tragédia. Uma série de audiências está agendada, e a atenção do mundo está voltada para o que será decidido nos próximos meses. Essa é uma luta que reflete a busca por justiça em um país onde muitos ainda se sentem abandonados por aqueles que deveriam protegê-los.