Neste sábado (2), o governo da Venezuela acusou oficialmente o Brasil de tentar 'enganar' a comunidade internacional. A declaração vem um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticar o que chamou de 'tom ofensivo' de Caracas, em meio ao aumento das tensões diplomáticas entre os dois países.

O chanceler venezuelano, Yván Gil, afirmou em um comunicado que o Itamaraty está 'tENTANDO enganar a comunidade internacional ao se passar por vítima em uma situação onde claramente agiu como algoz'. Ele acrescentou que Brasil promoveu uma 'agressão descarada e grosseira' contra o presidente constitucional Nicolás Maduro, atacando instituições e poderes públicos.

As relações entre Brasil e Venezuela se deterioraram após o veto do Brasil à entrada da Venezuela no Brics, grupo de países emergentes que inclui potências como Rússia e China. Além disso, o governo brasileiro questiona a reeleição de Maduro para um terceiro mandato (2025-2031), em um cenário envolto em denúncias de fraude por parte da oposição.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil expressou 'surpresa' com o tom hostil de autoridades venezuelanas, que afirmam se sentir ofendidas por comentários brasileiros sobre seus símbolos nacionais. O governo Lula se recusa a reconhecer Maduro como vencedor da eleição realizada em 28 de julho, a menos que um escrutínio detalhado seja divulgado. A oposição, por sua vez, reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia.

A escalada das tensões se intensificou após a cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, onde o Brasil manteve o veto ao acesso da Venezuela ao bloco. Em uma medida desesperada, o governo venezuelano convocou seu embaixador em Brasília para consultas e também o encarregado de negócios do Brasil em Caracas.

Ainda mais tensa, a situação foi exacerbada por Maduro que acusou o Itamaraty de 'conspirar contra a Venezuela', embora tenha se esquivado de culpar diretamente Lula pelo veto no Brics. Recentemente, a Polícia Nacional da Venezuela publicou uma imagem enigmática no Instagram, mostrando uma silhueta que se assemelha a Lula junto a uma bandeira brasileira, com a provocativa legenda: 'Quem se mete com a Venezuela se dá mal'.

A Polícia Nacional é controlada por Diosdado Cabello, um dos líderes mais influentes do chavismo, o que demonstra como as relações entre os dois países estão em um contexto de crescente animosidade. O comunicado do chanceler Gil foi claro ao exortar o Itamaraty a 'desistir de se intrometer em assuntos que são de competência exclusiva dos venezuelanos'.

Enquanto as tensões políticas aumentam, especialistas temem que esse desentendimento possa interferir na cooperação entre os dois países, que já têm um histórico abrangente de intercâmbio comercial e cultural. A espionagem, as acusações e o conflito ideológico podem levar a um isolamento mútuo, com implicações significativas para a estabilidade regional.