Uma piada racista pode redefinir o futuro dos EUA e de Porto Rico
2024-11-02
Autor: Carolina
Recentemente, o comediante Tony Hinchcliffe fez declarações polêmicas durante o evento de campanha de Donald Trump no Madison Square Garden, incluindo uma piada racista sobre Porto Rico. Ele afirmou: "Está acontecendo muita coisa. Eu não sei se você sabe, mas literalmente há uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano agora. Acho que se chama Porto Rico". Essas palavras geraram uma onda de indignação, especialmente entre a comunidade latino-americana nos Estados Unidos.
A repercussão de tais declarações à véspera das eleições pode ser significativa. Embora seja difícil medir o impacto imediato, o aumento das discussões sobre a independência de Porto Rico e os direitos políticos dos porto-riquenhos pode alterar o cenário político. Atualmente, Porto Rico é um território não incorporado dos EUA, o que significa que seus cidadãos não têm direito a votar nas eleições presidenciais e não possuem representação com voz ativa no Congresso.
Figuras públicas de destaque, como Jennifer Lopez e Ricky Martin, saíram em defesa dos porto-riquenhos. Lopez declarou: "Puerto Rico está em mim, carajo", durante um ato em apoio a Kamala Harris, enquanto Martin ressaltou: "Sempre pensaram assim de nós". A expressão de apoio destaca a insatisfação crescente entre as figuras latinas e os cidadãos porto-riquenhos, que se sentem marginalizados.
O escritor porto-riquenho Hector Feliciano, defensor da total independência de Porto Rico, acredita que a reação ao discurso do comediante pode marcar um ponto de virada. Ele argumenta que essa indignação pode levar os eleitores latinos, de maneira geral, a perceber que são tratados como cidadãos de segunda classe nos Estados Unidos, uma realidade que muitos ainda não reconheceram plenamente. "Somos cidadãos de segunda categoria. Não votamos para presidente, nossa cultura está sendo apagada", disse Feliciano.
A situação política em Porto Rico é tensa, com candidatos a governador divididos entre os pró e contra a independência. Essa divisão pode influenciar a mobilização do eleitorado e as discussões sobre a soberania da ilha. Com uma história que remonta à colonização espanhola em 1492, Porto Rico viu sua identidade e cultura afetadas por mais de um século de domínio dos EUA, após a aprovação da Lei Jones em 1917.
A diáspora porto-riquenha nos Estados Unidos já supera a população da própria ilha, e esses cidadãos desfrutam do direito de voto. Portanto, a piada de Hinchcliffe pode causar uma reação inesperada contra Trump, especialmente se os eleitores latinos decidirem se mobilizar em resposta a esse tipo de discurso. O Pew Research Center estima que existem cerca de 36 milhões de eleitores latinos nos EUA, fazendo deles uma força significativa, particularmente em estados como Flórida e Pensilvânia, onde a comunidade porto-riquenha é expressiva.
Os independentistas como Feliciano veem essa situação não apenas como uma oportunidade para combater a candidatura de Trump, mas também como uma chance de reabrir discussões sobre a independência e a autodeterminação de Porto Rico, que foram frequentemente tratadas de forma inadequada nas últimas décadas. Essa luta pode finalmente levar à valorização da identidade porto-riquenha e a um reexame das relações entre Porto Rico e os Estados Unidos.