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Padovani: 'Risco geopolítico de Trump está se concretizando', alerta economista-chefe do BV

2025-01-22

Autor: Fernanda

Alívio temporário: Apesar de ainda estarmos fora do impacto direto das tarifas de Trump, o Brasil enfrentará consequências no câmbio, nas taxas de juros e no comércio exterior.

O que o mercado já precificou dos anúncios de Trump?

O mercado já havia precificado um endurecimento da economia americana, com um possível aumento nas tarifas sobre produtos do México, Canadá e China, além de um maior controle sobre a imigração. Isso tende a provocar inflação. Como resultado, o Federal Reserve (Fed) pode optar por não cortar juros ou reduzir o ritmo de cortes, o que impacta diretamente a economia global.

Além disso, Trump anunciou um investimento colossal de US$ 500 bilhões em infraestrutura de inteligência artificial nos EUA, o que pode alterar a dinâmica do mercado global.

O que não está precificado?

A política externa dos EUA apresenta sinais de uma estratégia militar mais agressiva, impactando cenários geopolíticos. A possibilidade de retomada de controle sobre o Canal do Panamá e a Groenlândia representa riscos geopolíticos que são difíceis de quantificar mas que estão cada vez mais próximos de se concretizar, trazendo à tona eventos inesperados.

Quais serão as consequências?

Um aumento significativo nos orçamentos de defesa em todo o mundo, especialmente na Europa, deve ocorrer. Isso resultará em uma expansão fiscal que pressiona ainda mais a inflação. O cenário aponta para um aumento na dificuldade de queda nas taxas de juros, não apenas na Europa, mas também na Ásia e no Brasil. Essa volatilidade torna o ambiente macroeconômico incerto, possivelmente reduzindo o crescimento global.

A tensão entre EUA e China ou Europa pode trazer benefícios comerciais para o Brasil?

Sim! Com o aumento das tarifas nos EUA sobre produtos de outros países, o Brasil pode aumentar suas vendas para o mercado americano. Além disso, se a Europa ou a China decidirem retaliar, isso pode abrir novas oportunidades de exportação para o Brasil, particularmente devido à sua matriz energética limpa, a qual é cada vez mais valorizada no comércio internacional. Contudo, esses benefícios não acontecem da noite para o dia; levam tempo para se concretizarem.

Quais são os pontos negativos desta tensão global para o Brasil?

Com as taxas de juros subindo globalmente, a expectativa é de um crescimento econômico mais lento. Isso também gera uma maior aversão ao risco, levando investidores a adotarem posturas mais cautelosas em relação a mercados emergentes como o Brasil. A situação fiscal do país, com a dívida em crescente, agrava esse quadro, afetando os fluxos financeiros de forma considerável, o que acaba sendo mais relevante do que o aspecto comercial. Esse cenário pode acarretar em uma alteração no patamar do câmbio, juros e inflação.

Quais as perspectivas para o dólar, juros e Bolsa?

Neste início de ano, o dólar deve se manter na faixa de R$ 6 a R$ 6,10, mas com sinais de uma saída significativa de fluxo financeiro do país. O Banco Central pode elevar as taxas de juros até 15%, antes de uma pausa. Até o fim do ano, as projeções indicam que o dólar poderá chegar a R$ 6,50, e até R$ 6,80 até o final de 2026. A situação da Bolsa permanece desafiadora, uma vez que os preços estão relativamente baixos e a tendência é de que possam se tornar ainda mais atraentes para investidores cautelosos.