A recente vitória de Donald Trump na eleição americana acende um sinal de alerta para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com o renomado cientista político Ian Bremmer, fundador da Eurasia Group.

Segundo Bremmer, a proximidade do bilionário Elon Musk com Trump e suas críticas direcionadas a Lula devem agravar a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos.

Trump enfrentará um cenário político tumultuado, com a influência do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro permeando sua gestão. "A relação de Trump com Bolsonaro, que inclui visitas frequentes a Mar-A-Lago, e a controvérsia em torno de Musk e o Supremo Tribunal Federal, formam um quadro desafiador para Lula", observa Bremmer.

Esse emaranhado de conexões poderá afetar a estabilidade das relações entre os dois países, especialmente com os reverberações dos eventos de 8 de janeiro no Brasil e 6 de janeiro nos EUA.

O cientista político também destaca que existem tensões sobre questões climáticas que podem surgir durante um eventual encontro entre Trump e Lula, onde Bolsonaro poderá fazer barulho, influenciando a dinâmica dos diálogos.

"Lula terá que jogar com habilidade para manter a estabilidade nas relações, enquanto Trump pode acabar dificultando essa interlocução", afirma Bremmer.

Dito isso, ele acredita que há espaço para um diálogo produtivo através de figuras chave nos governos, como Celso Amorim, assessor especial da Presidência brasileira, que pode atuar como um mediador eficiente.

Bremmer prevê que Bill Haggerty, um republicano do Tennessee, é o candidato mais provável para assumir o cargo de secretário de Estado, cuja postura pode ser voltada para estabelecer relações comerciais benéficas com o Brasil.

O pano de fundo desta relação pode não se restringir apenas à política. Bremmer sugere que uma possível compra da rede social Truth Social, de Trump, pela plataforma X de Elon Musk poderia criar uma nova dinâmica na política externa americana, utilizando memes para criticar adversários, incluindo líderes mundiais e juristas.

Essa interação de Musk com Trump cria um novo ecossistema político que pode não ter existido em seu primeiro mandato.

Apesar das implicações negativas, Bremmer não espera que o Brasil figure entre as principais prioridades de Trump, abordando respeito às questões de imigração como o único foco significante sobre a América do Sul.

Para ele, a vitória de Trump reflete um padrão global de insatisfação popular com o establishment, algo observable em outros países e que pode se repetir em futuras eleições no Japão, Alemanha e Canadá.

Por fim, Bremmer defende que a legitimidade da vitória de Trump, reforçada pelo apoio popular significativo, deve ser reconhecida como um indicativo das tendências políticas atuais nos Estados Unidos.

Com a crescente insatisfação com lideranças tradicionais, os desafios e oportunidades nas relações Brasil-EUA nascem a partir deste novo contexto.