Vaticano Adota Inteligência Artificial para Levar a Basílica de São Pedro ao Mundo Virtual
2024-11-11
Autor: Ana
Introdução
Os gêmeos digitais representam réplicas virtuais de todos os elementos físicos da Basílica de São Pedro, exigindo um esforço monumental para sua criação. A parceria entre a Microsoft e o Vaticano iniciou em 2018, e os toques finais foram realizados em novembro de 2023. Este projeto não apenas mostra a beleza arquitetônica da Basílica, mas também faz parte de um esforço maior para preservar esse patrimônio histórico através da tecnologia.
Características da Basílica
A Basílica, que se estende por 23 mil metros quadrados, atinge uma altura imponente de 138 metros, com sua cúpula, projetada por Michelangelo, consideravelmente alta. Para se ter uma ideia, colocando o Cristo Redentor do Rio de Janeiro e a Estátua da Liberdade em cima uma da outra, ainda faltariam cinco metros até alcançar o teto da cúpula.
Desafios e Inovações
"O verdadeiro desafio foi capturar todos os detalhes, desde a textura do bronze até a forma como as sombras interagem com a luz durante a exibição", explica Shawn Wright, líder de design da Microsoft.
Wright, que tem uma vasta experiência na indústria de games e já trabalhou com produções para Hololens e Xbox, destaca que cenas que antes levariam meses para serem desenvolvidas agora podem ser criadas em apenas três minutos com as novas tecnologias disponíveis. A parte crucial desse projeto foi liderada pela iniciativa AI for Good dentro da Microsoft, que se dedica a usar a inteligência artificial para projetos com impacto social.
Coleta de Dados
Iniciando a missão, foram capturadas 400 mil fotos de alta resolução de cada canto da Basílica, resultando em 22 petabytes de material, equivalente aproximadamente a 86 mil iPhones de 256 GB. Esse volume de dados levou a situações curiosas durante o processo.
"Nunca imaginei que formaria uma equipe para voar drones na cúpula, uma verdadeira obra-prima de Michelangelo", diz Carol Ann Browne, vice-presidente da Microsoft.
Modelagem e Análise de Estruturas
As fotos foram convertidas em pontos que serviram como base para criar um modelagem 3D do templo. A inteligência artificial aplicada foi treinada para identificar vulnerabilidades estruturais que poderiam passar despercebidas ao olho nu, permitindo ao Vaticano realizar manutenções necessárias.
O engenheiro Alberto Capitanucci, líder da equipe técnica da Basílica, afirma: "A consciência é o primeiro passo para a preservação".
Tecnologias Utilizadas
Durante a fase de reconstrução, a tecnologia adotada foi a IA generativa, que tem a capacidade de preencher lacunas não captadas nas fotos, como espaços internos nas paredes, além de aprimorar a percepção de profundidade e dimensão. Essa fase envolveu uma combinação de técnicas, incluindo fotogrametria e uma nova tecnologia chamada Splating 3D, que está ganhando espaço no universo dos games.
Abertura da Igreja à Tecnologia
Ao mesmo tempo em que a tecnologia avança, a Igreja Católica começou recentemente a se abrir para novas ideias em relação à inteligência artificial. O Papa Francisco mencionou as implicações dessa tecnologia em um discurso na Cúpula do G7, ressaltando tanto as promessas quanto os desafios que ela representa, como a possibilidade de ampliação da desigualdade ao concentrar poder em poucos.
Experiência Virtual
A nova exposição digital, por meio de sobrevoos virtuais pela Basílica, oferece uma experiência que permite aos visitantes verem partes da Igreja que jamais poderiam ser acessadas fisicamente. Exemplos incluem a cúpula ornamentada por frescos de apóstolos e o Baldacchino, um altar exclusivo para o Papa.
Descobertas Históricas
O projeto ainda revela o acesso a uma cripta onde estão enterrados alguns dos primeiros cristãos, apresentando inscrições datadas do período. O próprio apóstolo Pedro é considerado enterrado lá, conforme a tradição da Igreja Católica.
Uma descoberta importante apresentada na exposição virtual é uma pedra com a inscrição "Pétros ení", que, segundo os estudiosos do Vaticano, testamenta a presença do apóstolo naquela área.
Ambientes Virtuais
A experiência digital abrange quatro ambientes: a Praça de São Pedro, o interior da Basílica, a cúpula e as grutas. Roteiros detalhados contextualizam a história e a importância religiosa do local, oferecendo uma apuração mais rica aos visitantes. Para aqueles que visitam a Basílica, uma exposição multimídia foi montada, destacando hologramas que explicam o processo de reconstrução digital.
Conclusão
Para o Vaticano, o gêmeo digital da Basílica de São Pedro não apenas proporciona acesso aos símbolos da fé, mas também busca preservar a grandeza da cultura humana para as futuras gerações. O Padre Paolo Benanti, professor de Ética na IA da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, comenta: “Nós temos que deixar algo que nos permita compreender a condição humana, algo que seja passado de geração para geração através da cultura e da linguagem”.
Com essa iniciativa inovadora, o Vaticano não apenas avança na preservação de um dos mais importantes monumentos da história, mas também estabelece um precedente sobre como a tecnologia pode servir à fé e à humanidade.