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‘Último ditador da Europa’ se mantém no poder em eleições contestadas na Bielorrússia

2025-01-26

Autor: Pedro

Os cidadãos bielorrussos dirigem-se às urnas neste domingo (26) para as eleições presidenciais, um processo eleitoral que é fortemente criticado por falta de transparência e liberdade. Alexander Lukashenko, que há 30 anos comanda o país, busca seu sétimo mandato consecutivo, consolidando-se como um dos líderes autoritários mais duradouros do continente europeu.

As eleições, inicialmente programadas para agosto, foram antecipadas para janeiro, em meio ao rigoroso inverno bielorrusso, com o intuito de desestimular qualquer forma de protesto em massa, conforme especialistas consultados pela agência de notícias AP. O movimento é uma tentativa clara de evitar os tumultos que marcaram as eleições de 2020, nas quais Lukashenko foi declarado vencedor com 80% dos votos, resultado este amplamente contestado pela oposição e pela comunidade internacional.

Desde aquelas eleições tumultuadas, o regime de Lukashenko intensificou a repressão contra opositores, levando líderes como Sviatlana Tsikhanouskaya ao exílio, enquanto outros, como seu marido, Siarhei Tsikhanouski, continuam presos. Atualmente, estima-se que mais de 1.300 prisioneiros políticos estejam detidos nas masmorras do regime, segundo informações do Centro de Direitos Humanos Viasna, baseado na própria Bielorrússia.

A erradicação de partidos políticos independentes e o fechamento de mais de 1.800 organizações da sociedade civil têm servido para fortalecer o controle do governo sobre a população. Curiosamente, a principal agência de segurança bielorrussa ainda mantém o emblemático nome KGB, e o país se destaca como o único na Europa a manter a pena de morte, realizando execuções por fuzilamento na nuca.

Relações com a Rússia e impactos globais

A dependência da Bielorrússia em relação à Rússia é um fator crucial para a estabilidade do regime de Lukashenko. Em dezembro de 2024, ambos os países firmaram um acordo de segurança que inclui a presença de armas nucleares russas em solo bielorrusso, elevando assim as tensões com a OTAN e seus aliados ocidentais. O Parlamento Europeu já manifestou, em 22 de janeiro, que não reconhecerá os resultados destas eleições, enquanto opositores exilados clamam por sanções adicionais e por que Lukashenko seja responsabilizado por violações de direitos humanos.

"Estamos reiterando nosso não reconhecimento de Lukashenko como presidente e reafirmamos que todo o regime bielorrusso é ilegítimo. Os eurodeputados expressam apoio inabalável ao povo bielorrusso em sua luta por democracia e liberdade", declarou a instituição em comunicado oficial.

Economia como arma política

Apesar da forte repressão, o governo atual usa a estabilidade econômica como uma ferramenta para consolidar seu poder. A economia bielorrussa cresceu 4% em 2024, impulsionada por subsídios russos, enquanto o governo anunciou aumentos de salários e pensões para trabalhadores estatais, fortalecendo sua base de apoio. Contudo, a dependência econômica da Rússia pode se transformar em um obstáculo, especialmente considerando os desafios recém-enfrentados pela economia de Vladimir Putin.

Candidatos e perspectivas futuras

As eleições de 2025 apresentam cinco candidatos, incluindo Lukashenko. No entanto, nenhum deles representa uma verdadeira oposição ao atual líder, conforme reportado pelo jornal independente russo The Moscow Times. Além disso, a ausência de observadores internacionais, como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), levanta sérias dúvidas sobre a transparência do processo eleitoral.

Sviatlana Tsikhanouskaya, em nome da oposição no exílio, instou os bielorrussos a se manifestarem simbolicamente votando contra todos os candidatos que concorrem à presidência. Com isso, a luta pela democracia e pela liberdade na Bielorrússia continua, em meio a um mar de incertezas e repressão.