Saúde

Tratamentos antiobesidade: O que os julgamentos dizem sobre nós?

2024-09-27

Nos últimos anos, medicamentos como Ozempic e Wegovy tornaram-se os queridinhos de celebridades e influenciadores, graças à sua eficácia comprovada na perda de peso. No entanto, o uso desses fármacos é rodeado por um estigma que não só afeta aqueles que lutam contra a obesidade, mas também os próprios usuários desses tratamentos.

A questão não se limita à estética. Esses medicamentos têm um papel crucial na gestão de comorbidades associadas à obesidade, como diabetes tipo 2 e hipertensão, além de potencialmente evitar custos elevados com a saúde ao longo dos anos. Todavia, muitos ainda vêem o uso de tais intervenções como uma "trapaça", refletindo uma visão restritiva que ignora os desafios diários enfrentados por quem vive com essa condição.

Pesquisadoras como Alexandra Brewis e Sarah Trainer apontam que as pessoas que optam por medicamentos ou cirurgias, como a bariátrica, frequentemente enfrentam críticas severas. Em suas pesquisas, 90% das mulheres relataram sentir-se julgadas, com a percepção de que “escolheram o caminho mais fácil”. Esses preconceitos não só aumentam a pressão social, mas também geram impactos emocionais negativos significativos.

A análise de Brewis sobre a cirurgia bariátrica no Brasil revelou relatos de mulheres que se sentiram envergonhadas e frustradas devido a comentários maldosos de amigos e familiares. Esse ambiente de pressão pode piorar o estresse e dificultar o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, essenciais após procedimentos cirúrgicos ou durante o uso de medicamentos.

Além disso, mesmo com o crescimento do mercado de medicamentos GLP-1, que pode alcançar US$ 150 bilhões até 2031, o custo elevado continua sendo um grande obstáculo, especialmente em um país como o Brasil, onde a desigualdade de renda limita o acesso a tratamentos de saúde.

As associações médicas, como Abeso e SBEM, destacam a importância de reformular a linguagem utilizada para descrever esses tratamentos. Especialistas, incluindo Bruno Halpern, defendem que termos como "medicamentos para tratar a obesidade" podem ajudar a mudar a percepção pública e a reduzir o estigma associado.

Essa mudança é crucial, visto que a obesidade é uma doença complexa que vai além da mera falta de disciplina ou esforço pessoal. É necessário reconhecer que cada trajetória de emagrecimento é única e pode incluir uma combinação de abordagens terapêuticas, incluindo medicamentos, cirurgias, apoio psicológico e mudanças de estilo de vida.

Viver em uma sociedade que marginaliza as pessoas obesas e, ao mesmo tempo, as critica por buscarem tratamentos modernizados, é um paradoxo insustentável. O verdadeiro desafio está em superar as barreiras sociais e econômicas que perpetuam o estigma, promovendo uma abordagem holística e empática no cuidado da saúde.

Em resumo, é essencial desmistificar os tratamentos antiobesidade e reconhecer que, longe de serem uma solução superficial, eles podem ser parte fundamental de um tratamento abrangente que busca promover a saúde e o bem-estar de todos os indivíduos.