Um estudo recente revelou que o tratamento com a liraglutida, aliado a intervenções no estilo de vida, pode ser a chave para reduzir significativamente o peso em crianças de 6 a 12 anos. Ao longo de 56 semanas, os resultados mostraram uma diminuição drástica no índice de massa corporal (IMC), superando efeitos do placebo.

"É um marco importante, pois temos evidências que confirmam que a liraglutida pode oferecer reduções clinicamente relevantes no IMC de crianças. Isso representa uma nova esperança ao enfrentarmos a obesidade, que está crescendo de forma alarmante entre os jovens", afirma Marcela Saturnino Caselato, endocrinologista e diretora de medical affairs da Novo Nordisk.

🖋️ A liraglutida é uma prima da semaglutida, um medicamento já utilizado no tratamento do diabetes tipo 2 e no controle de peso em adultos. Ambos são análogos do hormônio GLP-1, ajudando a reduzir o apetite e proporcionar uma sensação de saciedade.

Especialistas ressaltam que essa nova pesquisa é particularmente importante, pois atualmente não existem medicamentos aprovados para tratar a obesidade em crianças nessa faixa etária. Estima-se que, se as tendências atuais persistirem, 50% das crianças brasileiras podem apresentar sobrepeso até 2035. O alerta é forte: crianças com obesidade têm uma alta probabilidade de se tornarem adolescentes e adultos obesos.

"Observamos uma mudança nas perspectivas. Anteriormente, acreditava-se que as crianças com sobrepeso se normalizariam na puberdade. Hoje, sabemos que, se uma criança está acima do peso, provavelmente se tornará um adolescente obeso e depois um adulto com sobrepeso", explica Maria Edna de Melo, endocrinologista e presidente do Departamento de Obesidade da SBEM.

📊 De acordo com estudos, crianças com obesidade entre 2 a 6 anos têm 90% de chance de permanecer com essa condição na adolescência e 84% na vida adulta. Os resultados do novo estudo com liraglutida são promissores e podem abrir portas para terapias efetivas no futuro.

Conforme enfatizam os especialistas, a alimentação é a principal medida de combate à obesidade. A atividade física também é crucial: mais do que apenas 30 minutos, o recomendado é que as crianças pratiquem cerca de uma hora de exercício moderado a intenso diariamente.

É fundamental que as famílias estejam conscientes da importância de uma alimentação equilibrada e restrinjam o acesso a alimentos não saudáveis. Maria Edna de Melo também ressalta que a avaliação pediátrica é essencial para monitorar o crescimento e garantir que a criança permaneça dentro dos padrões de crescimento adequados.

🔍 Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, se as atuais tendências continuarem, 20 milhões de crianças brasileiras terão sobrepeso em 2035, representando preocupantes 50% da população infantil. Mundialmente, 770 milhões de crianças e adolescentes podem estar enfrentando sobrepeso ou obesidade.

Uma análise da revista The Lancet revelou que, em 2022, 159 milhões de crianças e adolescentes viviam com obesidade. Nos últimos 30 anos, as taxas de obesidade aumentaram quatro vezes em todo o mundo. As meninas passaram de 1,7% para 6,9%, enquanto os meninos saltaram de 2,1% para 9,3% entre 1990 e 2022.

Com isso, a luta contra a obesidade infantil se torna cada vez mais urgente. O que gera a expectativa é que com o avanço de estudos e novas terapias, como a liraglutida, novas esperanças surjam nesse cenário preocupante.