Saúde

Número de mortes por alcoolismo no Brasil cresce entre os maiores de 55 anos – Um problema alarmante!

2025-01-17

Autor: Carolina

O dia 10 de dezembro de 2020 ficará eternamente gravado na memória de Marileuza Zeferino, uma cabeleireira de 50 anos que perdeu seu pai, Sinval José Vieira, aos 72 anos, devido a complicações provocadas pelo alcoolismo. Em suas palavras, a sensação era mista: “Senti tristeza, mas também um alívio, pelas dificuldades que minha família enfrentou”, revela.

Sinval lutou contra a dependência do álcool por décadas. Marileuza recorda que ele não se limitava apenas à cachaça e à cerveja: “Se não tivesse uma bebida, chegava a ingerir álcool de limpeza”. Ele possuía um alambique em casa e abriu um bar, onde se entregava ao vício, consumindo até cinco litros de cachaça por semana.

O consumo intenso contribuiu para a piora de sua saúde, agravando problemas como hipertensão e câncer de próstata. Marileuza relata que seu pai, devido à teimosia, não tomava os medicamentos, optando por continuar a beber. “Um dia, sua pressão subiu tanto que causou falência renal e, logo depois, uma parada cardíaca. Ele não resistiu”, lamenta.

Este drama é mais comum do que se imagina. Um relatório do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) revela que, entre 2010 e 2022, o aumento das mortes relacionadas ao álcool no Brasil foi concentrado na faixa etária acima dos 55 anos. Os dados mostram que o número de mortes entre homens cresceu de 8.676 em 2010 para 10.190 em 2022, uma alta preocupante de 17,5%. Para mulheres, o aumento foi de 1.241 para 1.376, equivalente a 10,9%.

Surpreendentemente, enquanto o total de mortes entre os mais velhos aumentou, as mortes por alcoolismo reduziram em outras faixas etárias, especialmente entre os jovens de 18 a 34 anos, com uma queda de 20,5% para 13,7%.

Para Mariana Thibes, coordenadora do Cisa, o crescimento do alcoolismo entre os mais velhos não é surpresa. “Muitas pessoas nessa fase lidam com solidão e perdas. O álcool preenche um vazio emocional, aliviando a dor”, analisa.

A pandemia da Covid-19 também exacerbou a situação. De acordo com o relatório do Cisa, o consumo excessivo entre indivíduos de 55 anos ou mais aumentou de 8,9% em 2010 para 10,6% em 2023, com picos nos anos de 2020 e 2021. Mariana observa que o isolamento social e a ansiedade afetaram os hábitos de consumo, levando muitos a beber para enfrentar a solidão, transformando isso em um vício prejudicial.

A gastroenterologista Ana Flávia Passos, da Santa Casa BH, destaca os riscos do álcool na saúde, que incluem doenças mentais, cardiovasculares, e hepáticas, além de vários tipos de câncer. Os efeitos nocivos são intensificados em pessoas acima dos 55 anos, aumentando consideravelmente o risco de quedas devido à fragilidade óssea.

“Principalmente, o álcool pode levar à desnutrição e a um déficit nas vitaminas essenciais, especialmente do complexo B”, explica.

Ana Flávia também ressalta a necessidade de uma mudança na percepção social do consumo de álcool: “Muitas pessoas focam apenas nos alcoólatras que bebem até cair, mas quem consome regularmente mais de três doses diárias deve ser tratado com seriedade, pois isso pode indicar um padrão de consumo prejudicial”, afirma.

Além disso, especialistas observam que o termo “alcoólatra” é depreciativo e não é mais utilizado; as definições mais adequadas incluem “etilista” ou “alcoolista”. A conscientização sobre o alcoolismo se torna cada vez mais urgente à medida que as estatísticas revelam um quadro alarmante, e a sociedade deve se unir para encontrar soluções eficazes. Não deixe de se informar sobre os riscos e como ajudar entes queridos a superar essa dependência.