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EUA enviam mais bombas de fragmentação à Ucrânia: entenda o polêmico novo pacote de ajuda militar

2024-09-24

Os Estados Unidos estão prontos para enviar à Ucrânia um novo pacote militar avaliado em aproximadamente US$ 375 milhões (cerca de R$ 2,046 bilhões), que inclui bombas de fragmentação de médio alcance, uma variedade de foguetes, artilharia e veículos blindados, conforme reportado por autoridades americanas à agência Associated Press. Embora as quantidades específicas de cada tipo de armamento não tenham sido divulgadas, a inclusão das controversas bombas de fragmentação levanta preocupações globais.

Esse envio de armas já havia ocorrido anteriormente, com o primeiro pacote contendo bombas de fragmentação enviado em julho de 2023. A Ucrânia, em um conflito intenso com a Rússia desde fevereiro de 2022, busca apoio militar contínuo dos Estados Unidos e de outros aliados.

O anúncio do pacote de ajuda militar é esperado para quarta-feira (25), durante a Assembleia Geral da ONU, onde o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, buscará reforçar o apoio internacional e persuadir os EUA a permitir que suas tropas utilizem armas de longo alcance para aprofundar os ataques contra alvos russos. Em seguida, na quinta-feira, ele se reunirá com o presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris em Washington.

A ajuda militar inclui drones, bombas ar-terra com munições de fragmentação, que podem ser lançadas por caças ucranianos, munições para os Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (HIMARS), sistemas antitanque Javelin, além de veículos blindados e equipamentos de logística militar. Funcionários do governo dos EUA compartilham essas informações sob condição de anonimato, pois a ajuda ainda não foi anunciada publicamente.

Este pacote é um dos maiores autorizados recentemente e utilizará estoques do Pentágono para acelerar a entrega das armas à Ucrânia. Entretanto, há uma preocupação crescente, pois quase US$ 6 bilhões em financiamento para ajuda à Ucrânia podem expirar no final do mês, a menos que o Congresso americano intervenha. Embora os líderes do Congresso tenham chegado a um acordo sobre um projeto de lei de financiamento temporário, permanece incerta a instituição de medidas que permitam a extensão da autoridade do Pentágono para enviar armas à Ucrânia.

Enquanto isso, as forças armadas ucranianas e russas continuam a se confrontar no leste da Ucrânia, incluindo intensos combates corpóreo na região de Kharkiv, onde a Ucrânia recuperou uma importante planta de processamento que estava sob controle russo há quatro meses. As tropas ucranianas também estão mantendo posições na Rússia, na região de Kursk, após uma ousada incursão no mês passado.

Este anúncio de ajuda militar posiciona-se logo após a visita de Zelensky a uma fábrica de munições na Pensilvânia, onde ele agradeceu aos trabalhadores por estarem produzindo munições essenciais para o esforço de resistência ucraniano contra as forças russas.

Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, os Estados Unidos já forneceram mais de US$ 56,2 bilhões em assistência à segurança da Ucrânia. No entanto, as bombas de fragmentação, também conhecidas como municiamentos cluster, suscitam uma série de preocupações humanitárias. Essas armas, ao serem lançadas, dispersam submunições explosivas que podem não detonar imediatamente, tornando-se uma ameaça latente para civis durante e após os conflitos.

As bombas de fragmentação são armas complexas, compostas por uma caixa que se abre no ar e libera um grande número de submunições. O perigo reside no fato de que uma quantidade significativa dessas submunições pode falhar ao detonar, permanecendo e se transformando numa ameaça invisível durante anos. De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, essas armas são amplamente proibidas em mais de 110 países devido aos riscos extremos que representam para a vida civil.

O Brasil, embora não tenha assinado o tratado de proibição, que foi ratificado em 2008 em Dublin, é associado com a produção de munições de fragmentação e já enfrentou críticas de organizações de direitos humanos. Em um relatório de 2017, a Human Rights Watch destacou o uso de bombas fabricadas no Brasil em ataques mortais no Iémen.

Como nação, o Brasil deve repensar sua posição sobre as munições cluster, reconhecendo que esses artefatos são armas proibidas que causam danos irreparáveis a civis e devem ser eliminadas da fabricação e do uso. O diretor da divisão de armamentos da Human Rights Watch, Steve Goose, relembrou a necessidade de comprometimento global para erradicar estas armas devastadoras, que transformam os campos de batalha em campos minados para a população civil.