Descoberta uma nova espécie de melancieiro em Marabá e o que isso pode significar para a Amazônia!
2024-11-04
Autor: João
A Amazônia, um verdadeiro tesouro ecológico do planeta, alberga uma biodiversidade incrível que ainda é parcialmente desconhecida. Dentro das suas inúmeras árvores, existe um grupo notável conhecido como melancieiros, pertencente ao gênero Alexa, que até agora compreendia nove espécies conhecidas.
Recentemente, uma nova análise morfológica revelou a necessidade de descrever uma nova espécie desse grupo, identificada na região sudeste do Pará, particularmente em Marabá. Pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Jardim Botânico de Nova York, com o suporte da Fundação Casa de Cultura de Marabá, deram vida à nova espécie, que foi batizada de Alexa duckeana, em homenagem ao renomado botânico Adolpho Ducke, figura de destaque no estudo da flora amazônica. Notavelmente, a nova espécie é classificada como “em perigo de extinção”.
Além da descrição, os pesquisadores disponibilizaram ilustrações e um mapa de distribuição da nova espécie, além de comparações taxonômicas e chaves de identificação para outros melancieiros encontrados no Brasil.
O professor Dr. Guilherme Silva, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, destaca a importância econômica e ambiental dos melancieiros. Esses árvores são essenciais na construção de casas e barcos, sendo amplamente utilizadas na região amazônica. Mas não para por aí: elas contêm um alcaloide chamado castanospermina, que vem atraindo a atenção por suas propriedades farmacológicas surpreendentes. Estudos in vitro mostraram que a castanospermina pode ter atividade contra o HIV, inibindo a entrada do vírus nas células e interferindo na replicação do RNA viral.
Desde a sua descoberta na década de 1990, a castanospermina tem sido o foco de várias pesquisas destinadas a desvendar seu mecanismo de ação e explorar suas potencialidades terapêuticas. Não só contra o HIV, mas também há evidências iniciais de sua eficácia contra outros vírus, como os da hepatite e da febre amarela. Os cientistas continuam a investigar essa substância, na esperança de desenvolver novos tratamentos que sejam menos tóxicos e mais eficazes que as opções atuais.
De acordo com a bióloga Caroline Anjos, coordenadora do Núcleo de Botânica da FCCM, o trabalho realizado neste núcleo é crucial para entender e preservar a flora amazônica, ainda tão pouco estudada. Ela enfatiza que o Núcleo apoia pesquisadores de diferentes regiões e busca promover a valorização da biodiversidade local, contribuindo assim para a ciência e para ações de conservação.
A preocupação com a flora e a fauna da Amazônia é levantada também pelo pesquisador Júnior Neves, que possui vasta experiência em áreas degradadas. Ele relata que, entre as décadas de 1970 e 1998, muitas áreas na região da mata Mãe Maria foram desmatadas, provocando um impacto significativo na biodiversidade local. De acordo com suas observações, a quantidade de espécies nativas, incluindo a do melancieiro, tem diminuído drasticamente.
"O mato que observamos hoje é resultado de um passado de exploração excessiva. Precisamos fazer mais para preservar o que ainda resta e restaurar o que foi destruído", afirma Júnior, que continua a investigar as plantas endêmicas do sudeste do Pará. A nova descoberta do melancieiro em Marabá não é apenas uma adição aos registros botânicos, mas um chamado à ação para proteger as riquezas naturais da Amazônia antes que seja tarde demais.