A Revolução em Idlib: O Futuro da Síria Após a Queda de Assad
2024-12-22
Autor: Gabriel
Em 2017, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) trouxe um novo sopro de estabilidade à cidade de Idlib, após anos devastadores de guerra civil. A pequena cidade, localizada no noroeste da Síria, ainda carrega os vestígios de um passado de confrontos, com suas trincheiras e posições militares abandonadas.
Historicamente, Idlib foi a última bastião da resistência contra o regime de Bashar al-Assad. Recentemente, após a queda do presidente, o HTS não só se autoproclamou como os novos governantes, mas também começou a expandir seu controle para outras regiões do país.
Nas praças centrais de Idlib, bandeiras da oposição são hasteadas com orgulho, e grafites nas paredes exalam um espírito de resistência que, há alguns anos, parecia inimaginável. As ruínas e escombros da guerra são agora mesclados com boutiques reabertas e estradas bem pavimentadas, evidenciando uma transformação significativa na vida urbana local.
O médico Hamza Almoraweh, que migrou de Aleppo em 2015, relata um visível desenvolvimento desde que o HTS assumiu o poder. "Idlib agora possui serviços e infraestrutura que eram inexistentes sob a administração de Assad", afirma ele, enquanto atende seus pacientes em um hospital improvisado.
O HTS, embora suas raízes estejam ligadas à Al-Qaeda, busca se reposicionar como uma força nacionalista, distanciando-se de seu passado jihadista. Enquanto se movimenta em direção a Damasco, seus líderes prometem um futuro de inclusividade para todos os sírios.
Ainda assim, a imagem do grupo não é isenta de controvérsias; ele é classificado como uma organização terrorista por vários países, incluindo os EUA, a ONU e mesmo a Turquia, que apoia diferentes facções rebeldes.
Com uma população de 4,5 milhões de pessoas sob seu controle, o HTS estabeleceu uma administração conhecida como Governo da Salvação, responsável pela provisão de serviços básicos, como água e eletricidade. As receitas vêm de impostos sobre empresas e agricultores, e os serviços públicos têm se mostrado um orgulho local.
No entanto, o grupo enfrenta críticas por seu estilo de governo autoritário. O ativista Fuad Sayedissa, que agora reside na Turquia, expressa que "embora não seja uma democracia plena, há um certo nível de liberdade em comparação ao regime de Assad". Recentes protestos contra tributos excessivos indicam um espaço para a dissentimento, ainda que controlado.
No vilarejo de Quniyah, a alegria pela queda de Assad reverberou com os sinos da igreja tocando novamente pela primeira vez em dez anos. Essa comunidade, que sofreu durante a guerra civil, viu muitos de seus membros fugirem, restando apenas um punhado. O frei Fadi Azar observa um certo alívio e melhorias na liberdade religiosa sob o comando do HTS.
Entretanto, as preocupações sobre o futuro das minorias, incluindo os alauítas, ainda persistem. Embora o HTS tenha prometido proteção, a ascensão do grupo islâmico suscita dúvidas entre os locais.
Sayedissa lembra que, embora o HTS seja considerado por muitos como 'heróis', os cidadãos possuem limites quanto à sua liberdade. "Ninguém está disposto a tolerar outra ditadura, seja de Jolani ou de outros", enfatiza, referindo-se ao líder do HTS.
Os sírios, ainda em comemoração pela queda de Assad, experimentam um misto de esperança e receio pelo futuro do país. Com um novo capítulo se desenrolando, a Síria permanece em um estado de transição, onde as promessas de libertação trazem tanto oportunidades quanto desafios. A luta por justiça e liberdade, talvez, ainda esteja longe de terminar.