Antonio Cicero, renomado poeta e filósofo brasileiro, tomou uma decisão que chocou seu círculo íntimo: optou pela eutanásia após ser diagnosticado com Alzheimer em junho de 2023. Ao longo de sua vida, Cicero sempre defendeu a autonomia sobre a própria vida e morte, e essa escolha foi feita após meses de reflexão e comunicação intensa com seu marido, o figurinista Marcelo Pies. Juntos há quase quatro décadas, eles enfrentaram essa jornada com coragem e entendimento mútuo.

Marcelo Pies, que compartilhava uma relação duradoura e amorosa com Cicero, foi a única pessoa informada sobre a decisão do poeta. "Ele tinha muita urgência. Tinha medo de perder a consciência e de não poder se despedir adequadamente" afirmou Pies. A decisão de Cicero de não informar outros membros da família se baseou em seu desejo de manter a situação sob controle e de não causar dor desnecessária.

O poeta morreu aos 79 anos, em Zurique, na Suíça, um dos poucos lugares do mundo onde a eutanásia é legalizada. Uma carta emocionada deixada por Cicero expressou sua lucidez diante da situação que vivenciava, afirmando que gostaria de ser lembrado com dignidade. Na carta, ele declarou: "Estou prestes a praticar eutanásia, pois minha vida se tornou insuportável. O Alzheimer me afastou de quem eu sou e me impedindo de desfrutar das coisas que amava na vida".

Os últimos dias de vida de Antonio foram preenchidos por momentos significativos. Antes de sua partida, o casal passou dois dias em Paris, visitando locais que sempre tiveram um lugar especial em seus corações. Eles exploraram museus, degustaram pratos em restaurantes renomados e relembraram a beleza da vida antes da agonizante doença que afetava Cicero.

Marcelo enfatiza a importância de falar abertamente sobre a escolha da eutanásia, na esperança de eliminar preconceitos que cercam o tema. "É fundamental esclarecer que essa opção deve estar disponível em casos de doenças terminais e sofrimento atestado. A sociedade, aos poucos, está se tornando mais receptiva a discutir a eutanásia", disse ele.

Cicero, cuja obra inclui letras icônicas ao lado de sua irmã, a cantora Marina Lima, deixa um legado que transcende suas palavras. O poeta sempre lutou pela liberdade de escolhas em momentos delicados da vida e, segundo Marcelo, sua morte foi um reflexo dessa luta. "Ele partiu da forma que sempre quis, em paz e tranquilo, segurando a minha mão", disse o figurinista.

Neste momento de dor, Marcelo carrega as cinzas de seu amado de volta ao Brasil, mas se recusa a deixar que a tristeza tome conta. Ele prefere celebrar a vida vibrante que compartilharam e a coragem que Antonio demonstrou em suas últimas decisões. Apesar da perda, o amor e a determinação de Cicero em viver e morrer com dignidade continuarão a inspirar muitos ao redor.