Saúde

'Você usa vape?': Pergunta se torna rotina nos consultórios médicos

2024-11-05

Autor: João

O uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, está em crescente ascensão no Brasil. Dados recentes do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) revelam um aumento de alarmantes 600% na utilização de dispositivos eletrônicos para fumar nos últimos seis anos, envolvendo cerca de 3 milhões de adultos entrevistados.

Entretanto, o Ministério da Saúde ainda não possui um mapeamento oficial que evidencie o impacto do uso desses dispositivos na saúde pública. Essa falta de dados se deve, segundo especialistas, à falta de uma avaliação sistemática nos consultórios médicos e à ausência de uma Classificação Internacional de Doenças (CID) específica para esse tipo de exposição.

Recentemente, o Ministério da Saúde reafirmou seu compromisso com a regulamentação da Anvisa, que proíbe a comercialização, promoção e importação de cigarros eletrônicos. A pasta, em parceria com o Inca, tem promovido uma série de iniciativas educativas e de prevenção ao tabagismo.

Casos graves de saúde em jovens consumidores de vape

A pneumologista Telma Antunes, do Hospital Israelita Albert Einstein, relata experiências preocupantes com pacientes que apresentaram graves problemas respiratórios após o uso do vape. Um caso extremo envolveu um jovem que, após consumir cerca de 15 mil 'puffs' em apenas cinco dias, precisou de tratamento intensivo e corticóides, embora não tenha sido necessário intubá-lo. Após três meses de tratamento, seu pulmão foi recuperado, e hoje ele se tornou um defensor da causa anti-vape.

A situação se agrava quando olhamos para as epidemias de doenças relacionadas ao uso do vape. Em 2019, a doença associada ao uso de cigarros eletrônicos, conhecida como EVALI, afetou diversos jovens nos EUA, levando especialistas como Ciro Kirchenchtejn a diagnosticar pacientes brasileiros com pneumonia e outras complicações graves.

Nova geração de dependentes

Os médicos notam com preocupação a crescente demanda de adolescentes e jovens adultos que buscam tratamento por doenças respiratórias associadas ao uso de vapes. A pneumologista Cynthia Saad observa que muitos jovens utilizam os produtos sem o conhecimento dos pais, e revela que a popularidade do vape é impulsionada pelo marketing que o apresenta como uma opção glamourosa de fumar.

Os profissionais de saúde agora estão incorporando a pergunta "Você usa cigarro eletrônico?" em suas consultas, como parte da anamnese. David Coelho, pneumologista há 14 anos, menciona que muitos de seus pacientes, inicialmente atraídos pela ideia de que os vapes poderiam ajudar a parar de fumar, acabam se tornando dependentes de nicotina.

O que você precisa saber sobre os riscos do vape

1. **Não é apenas vapor de água**: O aerosol liberado pelos cigarros eletrônicos contém substâncias tóxicas e cancerígenas. 2. **Fumo passivo**: O impacto do aerosol não afeta apenas os usuários, mas também pessoas ao redor, especialmente aquelas com condições respiratórias. 3. **Contém nicotina**: A maioria dos líquidos utilizados possui altas quantidades de nicotina, favorecendo a dependência. 4. **Porta de entrada para o tabagismo**: Estudos indicam que usuários de vape têm maior probabilidade de começar a fumar cigarros convencionais. 5. **Riscos de explosão**: Há relatos de explosões de baterias de cigarros eletrônicos, resultando em queimaduras. 6. **Dependência**: O uso contínuo pode resultar em dependência, semelhante ao que acontece com o tabaco.

Os dados alertam para a necessidade urgente de mais estudos e regulamentações para abordar os malefícios do uso de cigarros eletrônicos e proteger as gerações futuras.