A crise diplomática entre Brasil e Venezuela se intensifica. Recentemente, a Venezuela convocou seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para explicar a situação ao governo de Nicolás Maduro, em resposta às declarações do assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim. Essas declarações foram feitas em meio ao veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à entrada da Venezuela no Brics, um bloco que visa promover a cooperação entre países em desenvolvimento.

Em uma nota oficial divulgada na quarta-feira, 30 de outubro de 2024, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela expressou a "rejeição firme" às declarações consideradas "intervencionistas" de autoridades brasileiras. O governo venezuelano acusou Amorim de agir como um "mensageiro do imperialismo norte-americano", ao emitir juízos sobre questões que deveriam ser exclusivas dos venezuelanos.

Durante uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Amorim reconheceu que existe um mal-estar nas relações bilaterais, especialmente devido ao veto brasileiro. No entanto, ele defendeu a importância da comunicação e a necessidade de manter o diálogo para influenciar positivamente um eventual processo de democratização na Venezuela.

O veto brasileiro à entrada da Venezuela no Brics foi uma decisão importante tomada durante a 16ª cúpula do bloco, que ocorreu em Kazan, na Rússia, entre 22 e 24 de outubro. A aprovação de novos membros no Brics requer consenso, e a negativa do Brasil deixou a Venezuela fora da lista de países convidados para uma nova parceria. Essa atitude foi interpretada como um repúdio à integração latino-americana e uma afronta aos princípios de unidade regional.

Chama a atenção o fato de Maduro ter viajado inesperadamente para a cúpula em Kazan, onde se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin. A ausência de Lula na cerimônia, em decorrência de um incidente doméstico, impediu que os dois se encontrassem, evitando um potencial constrangimento.

As relações entre Brasil e Venezuela vêm se deteriorando desde as eleições presidenciais na Venezuela, ocorridas em julho, nas quais Maduro foi reeleito, mas sem a apresentação pública de resultados claros, gerando dúvidas sobre a legitimidade de sua vitória. O governo brasileiro tem insistido na necessidade da divulgação dos dados eleitorais, mas até o momento não obteve resposta satisfatória, contribuindo para o esfriamento das relações bilaterais.