Nação

São Paulo enfrenta a pior qualidade do ar da última década: O que vem por aí?

2024-09-25

Em 2024, o estado de São Paulo registrou alarmantes níveis de poluentes inaláveis, atingindo os piores índices da década. Os dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) revelam que as partículas invisíveis e prejudiciais à saúde estão provenientes de queimadas, processos industriais e atividades no solo, se mostrando numa concentração crítica.

Este ano, as partículas finas, resultantes das queimadas, e as originadas de atividades industriais e do solo estão 42% e 51% acima da meta de qualidade do ar estabelecida pela CETESB. Esse preocupante panorama é resultado de medições contínuas desde 2014, evidenciando uma tendência alarmante na degradação da qualidade do ar.

Os padrões da CETESB foram pensados para se alinhar às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas os resultados estão longe do ideal. De todas as estações que começaram a coletar dados em 2014 e permanecem ativas, metade registrou novas marcas para as partículas finas (MP 2,5), enquanto 16 das 36 estações tiveram resultados igualmente drásticos para o MP 10 (material particulado com até 10 micrômetros).

Um dado chocante: 2024 concentra 73% dos índices mais altos de partículas finas registradas, e entre os 70 pontos de monitoramento do MP 10, 21% também apresentaram recordes alarmantes. Históricamente, 2010, 2012 e 2024 estão entre os anos que mais concentraram registros de poluentes MP 10. Para as partículas finas, os anos de 2018, 2020 e 2021 levantam alertas sobre a gravidade da situação, que se agrava em 2024.

Ribeirão Preto é o município que mais sofre com essa situação, tendo registrado em 24 de agosto níveis de poluição que superaram em 3.000% o limite de emergência para partículas maiores e 2.500% para as menores. Outros municípios alarmantes incluem Santa Gertrudes, Catanduva e São José do Rio Preto.

Na capital paulista, a estação de monitoramento na Ponte dos Remédios, na marginal Tietê, registrou em 11 de setembro um índice 41,70% acima da meta para o MP 10, o que a caracterizou como o pior dia do ano para São Paulo. Bairros como Itaim Paulista e Congonhas também superaram os limites estabelecidos.

A pior concentração de partículas finas foi novamente detectada na marginal Tietê, com 85% acima da meta, seguida pela estação do Parque Dom Pedro II, com 71% acima. Essa situação alarmante afeta principalmente os bairros mais vulneráveis, que registraram índices recordes de poluição em 2024.

Especialistas alertam que a combinação de seca prolongada e queimadas intensas impacta diretamente na saúde da população. Os habitantes em áreas mais atingidas enfrentam agravamentos de doenças alérgicas e respiratórias. O médico patologista Paulo Saldiva da Universidade de São Paulo alerta que a exposição constante a MP 10 e MP 2,5 está associada ao aumento da mortalidade.

As consequências não são apenas imediatas. Com a saúde pública sob pressão, Saldiva prevê um aumento de internações hospitalares e uma sobrecarga no sistema de saúde já fragilizado. Os grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos, são os que enfrentam maior risco de complicações na saúde.

O especialista afirma que a elevação nos índices de poluição era previsível, dada a crescente incidência de queimadas nos últimos anos, e preocupa-se com a incapacidade de resposta às problemáticas ambientais já presentes. "Agora, teremos que trabalhar em dobro para reverter essa situação caótica", afirmou. Enquanto isso, a população permanece à mercê de um ar cada vez mais tóxico, e os impactos da poluição na saúde coletiva se tornam uma questão urgente e inadiável.

É preciso uma reação efetiva das autoridades para mitigar essa crise, que, se negligenciada, pode levar a consequências devastadoras para a saúde pública no Brasil.