Um estudo inédito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou uma técnica inovadora que pode mudar a forma como o câncer de mama é tratado. A crioablação, um método que usa o congelamento de células cancerígenas, mostrou resultados impressionantes com 100% de eficácia em pacientes em estágios iniciais da doença. Esta pesquisa marca a primeira vez que um protocolo desse tipo é implementado na América Latina para o tratamento de tumores mamários.

O procedimento é considerado minimamente invasivo e surge como uma alternativa aos métodos cirúrgicos tradicionais. A técnica envolve a inserção de uma agulha fina na área afetada, onde nitrogênio líquido a temperaturas de até -140°C é aplicado. Esse choque térmico forma uma esfera de gelo que destrói as células tumorais de forma eficaz.

A crioablação é realizada em ambiente ambulatorial com anestesia local, permitindo que as pacientes retornem para casa no mesmo dia, sem necessidade de internação ou longos períodos de repouso. O professor Afonso Nazário, um dos coordenadores da pesquisa, destaca: "Nosso objetivo com a crioablação é eliminar o tumor de maneira eficaz e menos invasiva. Essa técnica é especialmente vantajosa para pacientes idosas ou com diversas comorbidades, pois elimina a necessidade de anestesia geral e grandes incisões."

Durante a primeira fase do estudo, 60 participantes com tumores de até 2,5 cm foram analisadas. Os resultados foram promissores: 48 pacientes com tumores de até 2 cm tiveram o câncer completamente eliminado, enquanto, dentre as 12 com tumores entre 2 e 2,5 cm, 8% apresentaram pequenas áreas residuais da doença após o tratamento.

Após a crioablação, as pacientes ainda passam por uma cirurgia conservadora para remover o quadrante afetado e avaliar os linfonodos axilares, que é a prática padrão no tratamento de câncer de mama. A remoção é crucial para verificar se as células cancerígenas se espalharam para o sistema linfático.

Porém, uma grande expectativa em torno deste estudo é a possibilidade de eliminar completamente a necessidade de qualquer procedimento cirúrgico no futuro. De acordo com Nazário, o corpo é capaz de reabsorver gradualmente as células destruídas pelo congelamento, o que pode transformar a abordagem tradicional de tratamento.

Os pesquisadores já se preparam para a fase final da investigação, prevista para ocorrer entre março de 2025 e 2027. Neste estágio, 700 pacientes serão divididas em dois grupos: uma metade receberá tratamento com crioablação e a outra metade será submetida à cirurgia convencional. A seleção se concentrará em mulheres acima de 60 anos com tumores de até 2 cm, que mostraram os melhores resultados na etapa inicial.

"Essa escolha é baseada em evidências que sugerem que, nesse grupo específico, a remoção dos linfonodos axilares não é necessária em casos de câncer inicial. Nosso foco agora é provar que a crioablação pode ser tão eficaz quanto a cirurgia em termos de resultados a longo prazo", concluiu Afonso Nazário.

Embora a técnica já seja utilizada em países como Estados Unidos, Japão, Israel e Itália, ela ainda não está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Especialistas alertam que a introdução dessa técnica no SUS pode significar um avanço significativo no tratamento do câncer de mama, proporcionando uma alternativa menos invasiva e com melhores resultados para as pacientes.