A Guatemala foi palco de uma operação chocante, onde 160 crianças foram resgatadas de uma propriedade ligada à seita judaica ultraortodoxa Lev Tahor. Acusada de violência sexual e tráfico de pessoas, essa comunidade tem gerado preocupação internacional e agora as autoridades locais estão debruçadas sobre as atrocidades cometidas.

O ministro do Interior, Francisco Jiménez, revelou que a operação ocorreu após o recebimento de várias denúncias graves. Entre os relatos, uma queixa feita em 11 de novembro mencionava crimes horrendos, incluindo ‘tráfico de seres humanos sob a forma de gravidez forçada e abuso infantil’. Esses testemunhos foram trazidos à luz por quatro menores que conseguiram escapar e contar suas experiências à polícia.

A ação, que se deu em Oratório, Santa Rosa, a 60 quilômetros da capital, contou com o apoio de múltiplas agências, incluindo o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS). Durante a busca, as autoridades ainda encontraram "ossos em caixas", evidências que podem indicar práticas ainda mais sombrias dentro da seita.

Essa não é a primeira vez que a Lev Tahor enfrenta investigações. Desde sua chegada à Guatemala em 2013 e, posteriormente, sua mudança para Oratório em 2016, autoridades locais já tentaram diversas intervenções. No México, um juiz emitiu ordens de prisão para líderes da seita, ampliando as dimensões deste escândalo global.

Fundada na década de 1980 pelo rabino Shlomo Helbrans, a Lev Tahor, que significa "coração puro" em hebraico, possui uma estrutura rígida e práticas extremas. Com uma população que varia entre 250 e 500 membros, o grupo segue uma interpretação severa das leis judaicas, mais estrita que muitas comunidades hassídicas.

As regras de vestuário e os costumes alimentares são extremos. As mulheres precisam usar roupas pretas que cobrem todo o corpo, e a dieta é restrita a alimentos kosher, com uma aversão particular a itens que poderiam ter sido geneticamente modificados. Uma peculiaridade é que, enquanto evitam galinhas e ovos, consomem gansos e seus ovos, além de terem uma dieta que exclui a maioria dos vegetais por medo de insetos.

A tecnologia é outra área onde a seita se impõe rigorosas restrições, evitando o uso de eletrônicos que poderiam expor seus membros a ideias externas.

Após esta operação de resgate, a comunidade judaica na Guatemala se viu na obrigação de se dissociar publicamente da seita, reafirmando seu compromisso com as autoridades locais e denunciando as ações da Lev Tahor. Esse desdobramento evidencia não apenas o impacto local das ações do grupo, mas também as repercussões mais amplas que o caso pode ter sobre os direitos humanos em comunidades religiosas ao redor do mundo.

As investigações continuam, e as autoridades prometeram mais informações assim que tiverem resultados conclusivos. Enquanto isso, o resgate dessas crianças marca um ponto crucial na luta contra o abuso e a exploração de menores.