Já parou para pensar em como a aceleração da vida moderna nos afeta? Fui ao evento HotmartFire em Belo Horizonte e participei de um painel instigante intitulado "A gente precisa desacelerar", onde compartilhei algumas reflexões fundamentais.

Primeiro, é importante esclarecer que minha vida não é lenta. Muitas pessoas acreditam que por eu abordar a desaceleração, tenho um estilo de vida tranquilo, mas a verdade é bem diferente. Estou atravessando um período intenso de comprometimento e escolhas difíceis, onde preciso decidir quais tarefas posso deixar de lado.

Pesquisas recentes sobre a sociedade do cansaço mostram que a aceleração do tempo não é uma questão individual. A pressão neoliberal nos faz acreditar que somos responsáveis por nosso próprio bem-estar e saúde mental. No entanto, mesmo com psicoterapia, cada um de nós enfrenta barreiras diferentes que nos separam do descanso.

Um estudo do Datafolha revela que 43% dos brasileiros se sentem vivendo em uma velocidade x2, e 46% acreditam que não têm tempo suficiente para realizar o que amam. Esses números são alarmantes e indicam que as dificuldades enfrentadas são coletivas, não pessoais. Não podemos simplesmente prescrever desaceleração como se fosse uma escolha individual.

A realidade é que, em um país tão desigual, conseguir descansar já é um privilégio. Precisamos reconhecer que descanso, cuidado e saúde mental são direitos de todos, e não exceções.

A aceleração que vivemos é uma construção social que normaliza a pressa. Muitas vezes, agimos no automático, sem realmente perceber que estamos apenas seguindo a correnteza. A desaceleração não significa fazer tudo lentamente, mas sim soltar as amarras do ritmo alucinado e reconhecer que somos seres humanos com necessidades.

Byung-Chul Han, filósofo contemporâneo, aponta que nossa sociedade hiperativa é, na verdade, hiperpassiva: deixamos de pensar, quando essa é a atividade mais vital.

Nosso painel também observou que até o mercado percebeu essa dinâmica e oferece produtos que prometem soluções rápidas, mas, ironicamente, isso só alimenta ainda mais o ciclo da aceleração.

Isso levanta a pergunta crucial: como então desacelerar? Poderia sugerir algumas dicas banais, como caminhar mais ou passar mais tempo na natureza. Mas precisamos lembrar que essas ações não são acessíveis a todos, e impor tais soluções pode causar angústia e frustração.

Não existe uma fórmula mágica para desacelerar. A mudança precisa ser sistêmica e começar pelas pessoas, levando em conta a justiça social. Por isso, a frase do painel era "A gente precisa desacelerar" e não "você precisa desacelerar". Não somos falhos por não conseguir desacelerar sozinhos; precisamos fortalecer essa luta coletivamente.