Polêmica do Porsche: a declaração da perita que revoltou a família do motoboy assassinado
2024-11-01
Autor: Pedro
A família de Pedro Kaique Ventura Figueiredo, que foi tragicamente atropelado por um Porsche em São Paulo em julho deste ano, expressou profunda indignação após declarações da fotógrafa pericial Telma Rocha, do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Telma, que está sob investigação da Corregedoria da Polícia Civil, admitiu em um podcast sua amizade com Igor Ferreira Sauceda, o motorista do Porsche preso pelo atropelamento.
Em um comunicado enviado ao UOL pelo advogado Roberto Guastelli, que atua em nome do pai de Pedro, a família criticou a perita por sua postura inaceitável. Eles destacaram a amizade dela com o réu como um conflito de interesses extremamente preocupante e lamentaram que essa relação tenha se manifestado publicamente nesta situação tão dolorosa.
"O relatório da autoridade policial foi aceito pelo Ministério Público, e o Poder Judiciário acatou, tornando o motorista réu no processo criminal. A perita pode ter o direito de expressão, mas se houver excesso neste direito, a Corregedoria da Polícia Civil deve investigar e aplicar as sanções adequadas. Do contrário, estaríamos diante de censura, o que não é permitido pela nossa Constituição", disse a nota da família.
Apesar de tentativas de contato, a defesa de Igor optou por não se manifestar. Telma Rocha possui uma considerável base de seguidores nas redes sociais, devido à sua participação em programas de crime, e está envolvida em outra controvérsia na Corregedoria, relacionada a uma confissão anulada que ocorreu após comentários feitos por ela em um podcast em 2022.
Recentemente, no dia 27 de agosto, o podcast "Inteligência Ltda." atraiu grande atenção ao abordar casos de motoristas de Porsche envolvidos em acidentes fatais em São Paulo. Com mais de quatro horas de duração, o episódio, que já ultrapassou 700 mil visualizações no YouTube, contou com a participação de Telma, do especialista André D'Ávila e do youtuber Beto Ribeiro, que discutiram o impacto e a responsabilidade social sobre esses casos.
Durante sua participação, Telma controversamente questionou por que casos envolvendo veículos de luxo, como o Porsche, recebem tanta atenção da mídia. Segundo ela, essa cobertura é uma "tremenda hipocrisia", já que acidentes semelhantes com veículos comuns não recebem o mesmo destaque.
"Se você acelerar um carro potente e causar um acidente, tem que responder por isso. Mas vamos ser menos hipócritas. O motorista é filho de um churrasqueiro de rua, e ninguém fala sobre isso. Ele é uma pessoa que veio de baixo e, por algum motivo, está na situação que está. E isso não justifica a irresponsabilidade?", questionou a perita.
Telma tentou defender Igor, alegando que ele não tinha a intenção de atropelar Pedro e que o acidente foi resultado de uma série de circunstâncias infelizes. Porém, em agosto, Igor foi indiciado por homicídio doloso triplamente qualificado, contradizendo a defesa apresentada por Telma. O Ministério Público afirma que ele agiu com intenção de matar, utilizando um meio cruel.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) se manifestou, enfatizando que as observações de Telma não refletem a visão da instituição e que o caso foi tratado com rigor investigativo. A SSP esclareceu que o inquérito já foi concluído e enviado ao Judiciário.
Em 12 de outubro, Telma comentou a polêmica com o UOL, admitindo que sua declaração não era autorizada pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica. Além disso, durante o podcast, revelou que já acumulou 180 pontos na CNH e que não usa cinto de segurança, desafiando normas de trânsito ao afirmar que usa o celular enquanto dirige.
"Eu não uso cinto porque me sinto mais segura assim. Prefiro correr o risco a ser pega de surpresa", declarou, gerando ampla repercussão nas redes sociais, onde a opinião pública se dividiu entre apoiá-la e criticar suas atitudes irresponsáveis.
Essa situação trouxe à tona uma discussão mais ampla sobre as desigualdades sociais e como elas influenciam a percepção de crimes, especialmente quando se trata de pessoas de diferentes estratos sociais envolvidas em incidentes trágicos. A indignação da família de Pedro, assim como a crescente demanda por justiça, continua a ressoar na sociedade, à medida que este caso se desenrola.