'Palácio em choque': como foram as últimas horas de Bashar al-Assad na Síria
2024-12-14
Autor: Julia
Em um desfecho surpreendente para a liderança síria, o presidente Bashar al-Assad fugiu do país sem comunicar sua saída a familiares ou principais colaboradores, revelaram fontes à AFP. A queda de Damasco para as forças rebeldes em 8 de dezembro de 2023 foi precedida por uma série de acontecimentos que deixaram o palácio presidencial em estado de pânico.
Na noite anterior à sua fuga, Assad havia solicitado à sua assessora, Buthaina Shaaban, que preparasse um discurso, talvez na expectativa de uma retórica que pudesse reverter a situação. Porém, em vez de discursar, ele embarcou em um voo secreto da capital síria para a base aérea russa em Hmeimim. "Ele partiu sem avisar seus colaboradores mais próximos", afirmou um ex-alto funcionário, que pediu para não ser identificado.
Enquanto isso, seu irmão Maher al-Assad, comandante da temida Quarta Brigada, recebeu a notícia da fuga por acaso durante uma missão de combate em Damasco. Alarmado, decidiu realizar sua própria fuga de helicóptero, aparentemente rumo a Bagdá.
Revelações sobre a situação caótica começaram a surgir. Em 27 de novembro, quando os rebeldes iniciaram a ofensiva a partir da província de Idlib, Assad estava em Moscou, onde sua esposa, Asma, estava se tratando de câncer. Um dia após seu retorno, em 30 de novembro, Alepo já havia caído, mostrando como a situação se deteriorava rapidamente.
Nos dias que se seguiram, a queda de Hama e Homs para os rebeldes foi rápida e decisiva, cercando Damasco em uma semana. A falta de comunicação de Assad gerou desconfiança e confusão entre os oficiais, como relatou um ex-colaborador: "No sábado, ele não se reuniu conosco. Estávamos cientes de sua presença, mas não houve reuniões, o que causou grande confusão na cúpula e no campo de batalha." A pressão aumentava à medida que os combates se intensificavam.
No dia da queda de Damasco, haviam especulações sobre um discurso que iria "reunir o país". Um antigo funcionário do governo revelou: "Tudo estava pronto para a declaração, mas foi adiado. Mais tarde, soubemos que não haveria discurso algum."
Naquela noite, enquanto as tensões aumentavam e o pânico se instalava, a situação no palácio se tornava crítica. O chefe de imprensa de Assad, Kamel Sakr, ainda tentava acalmar jornalistas, afirmando que o presidente faria uma declaração em breve, quando na realidade ele já não estava mais disponível. À meia-noite, um oficial de inteligência confirmou que todos tinham deixado o local, gerando um choque intenso na equipe remanescente.
Cerca de 2h30, ao sair do palácio, um dos últimos funcionários se deparou com uma cena apocalíptica: soldados e civis fugiam em massa, formando um verdadeiro êxodo. "Era aterrorizante. Vimos milhares de carros deixando Damasco e muitas pessoas a pé nas estradas. Naquele momento, percebi que tudo estava perdido e que Damasco havia caído", relatou ele.
Agora, com a Síria em um estado de desordem e revolta, os civis saíram às ruas para celebrar a queda de Assad. A instabilidade política que se segue promete um futuro incerto para o país, enquanto o mundo observa atentamente o desenrolar dessa crise histórica.