Cuidar de pacientes idosos diagnosticados com câncer é um desafio que exige atenção especial e estratégias diferenciadas. A doutora Luciola, uma especialista em oncologia geriátrica, destaca que não podemos focar apenas no indivíduo frágil. Para aqueles que têm saúde e qualidade de vida, mesmo aos 70 ou 80 anos, o melhor tratamento oncológico deve ser oferecido.

Sua jornada na oncologia começou na faculdade, onde se fascinou por células tumorais. O seu interesse cresceu ao se mudar para São Paulo para a residência em oncologia, onde se tornou cada vez mais ciente da complexidade de tratar pacientes idosos. No HCor, ela implementou um programa de oncogeriatria e se tornou referência em cuidar da saúde de uma população mais madura.

Uma das principais preocupações ao tratar câncer em idosos é a presença de comorbidades. É crucial avaliar todas as doenças que o paciente já possui, pois a quantidade e a gravidade dessas condições podem impactar a mortalidade. Por exemplo, um idoso com hipertensão que já sofreu um infarto deve ser tratado com cautela, pois pode ter um risco maior do que o próprio câncer.

Outro fator a ser considerado é a cognição. O comprometimento cognitivo pode afetar a compreensão sobre o tratamento, gerando riscos de toxicidade ou esquecimento das medicações. Portanto, a avaliação cognitiva deve ser realizada por um geriatra e deve haver apoio constante para assegurar que o paciente siga corretamente as orientações.

Além disso, as quedas também são um indicativo a ser observado. Elas podem sinalizar problemas de equilíbrio ou sarcopenia, a perda de massa muscular, que são incapacitantes durante o tratamento. A colaboração entre profissionais, como fisioterapeutas e nutricionistas, é essencial para garantir que o paciente mantenha força e qualidade de vida ao enfrentar o câncer.

A meta da oncogeriatria não é apenas aumentar a longevidade, mas também garantir que essa vida seja de qualidade, com menos internações e mais saúde. O tratamento do câncer deve ser levado em conta em relação ao estado geral de saúde do idoso, buscando a melhor relação entre a terapia proposta e as reais condições de vida do paciente.

Um ponto crucial abordado por Luciola é a importância do diagnóstico precoce. Tumores como os de mama, próstata e pulmão têm maiores chances de cura quando detectados cedo, independendo da idade, desde que o paciente não tenha outras doenças graves. Infelizmente, muitos idosos não recebem a devida atenção em exames de rastreamento, e essa falta de cuidado pode trazer consequências trágicas.

Sabe-se que o tratamento do câncer não tem idade certa. A verdade é que um paciente mais velho pode e deve receber as melhores opções de tratamento, apenas requerendo mais vigilância e uma abordagem multidisciplinar que considere todos os aspectos de sua saúde. Portanto, a mensagem é clara: o cuidado com a saúde deve ser contínuo, e cada dia importa na luta contra o câncer, independente da idade.