Os Cuidados Essenciais no Tratamento do Câncer em Idosos: O Que Você Precisa Saber
2024-11-14
Autor: Julia
O tratamento do câncer em idosos é uma questão complexa e muitas vezes negligenciada. "Costumamos focar apenas nos aspectos relacionados ao paciente mais frágil. Se ele tem outras doenças graves, pode ser mais apropriado optar por cuidados paliativos. No entanto, se o paciente saudável tem 70 ou 80 anos e provavelmente viverá pelo menos mais uma década, merece receber o melhor tratamento oncológico disponível", afirma a doutora Luciola.
Com uma paixão pela oncologia que começou na faculdade, Luciola decidiu se dedicar ao cuidado de pacientes mais velhos. Suas experiências na capital paulista a levaram a criar um programa de oncogeriatria no HCor, onde agora atua com um enfoque abrangente, reconhecendo que o tratamento do câncer deve levar em consideração toda a complexidade da saúde do paciente.
Os desafios do tratamento oncológico em idosos são diferentes e exigem atenção especial. A Oncogeriatria, embora não seja uma especialidade médica formal, contribui significativamente ao oferecer um olhar atento ao paciente idoso, levando em conta fatores como comorbidades, cognição e risco de quedas.
Comorbidades: A Concorrência com Outras Doenças
"Não se trata apenas de quais doenças o paciente já tinha, mas quantas", explica Luciola. Por exemplo, um idoso com hipertensão pode requerer um controle rigoroso, dependendo da gravidade da condição. Doenças como diabetes descontrolado também precisam ser monitoradas, pois podem interferir na eficácia do tratamento do câncer. Isso significa que o oncologista deve trabalhar em conjunto com cardiologistas e outros especialistas.
Cognição: A Importância da Avaliação Mental
Muitas vezes, os familiares não mencionam problemas de memória ou de cognição durante as consultas. A não identificação desses problemas pode levar a complicações no tratamento, aumentando o risco de efeitos colaterais indesejados. A avaliação cognitiva deve ser uma parte integrante do processo de tratamento e requer a intervenção de um geriatra.
Quedas: Um Sinal de Alerta
Os oncogeriatras devem questionar os pacientes sobre quedas recentes, pois isso pode indicar problemas de equilíbrio que exigem atenção. Além disso, a sarcopenia, ou perda de massa muscular, é um fator que deve ser levado em consideração, pois a saúde muscular é crucial para a recuperação durante o tratamento contra o câncer. Aqui, o envolvimento de fisioterapeutas e nutricionistas é fundamental para elaborar um plano de exercícios e alimentação adequado.
Idealizando o Futuro do Paciente
"O meu principal objetivo é que o paciente viva mais e, o mais importante, com qualidade de vida", diz Luciola. O tratamento do câncer deve priorizar a sobrevivência livre de internações hospitalares prolongadas. A abordagem da oncogeriatria é planejada para garantir que o paciente tenha um prognóstico favorável, levando em conta as especificidades da idade e das condições preexistentes.
A prevenção desempenha um papel crucial. O diagnóstico precoce é a chave para a cura, e isso é particularmente verdadeiro para tipos de câncer que podem ser detectados em estágios iniciais, como o de mama e próstata. Infelizmente, a realidade dos cuidados de saúde muitas vezes não reflete essas necessidades. A mamografia, recomendada até os 65 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), deveria ser realizada anualmente até pelo menos os 75 anos, de acordo com sociedades médicas. No entanto, na prática, muitos pacientes mais velhos acabam não recebendo o devido acompanhamento.
Um Chamado à Ação
É essencial que os profissionais de saúde reconheçam que tratar o câncer não tem limites etários. Pacientes mais velhos simplesmente precisam de uma supervisão mais atenta e uma equipe multidisciplinar disposta a enxergar toda a complexidade da vida que vem com a idade. Temos que trabalhar em conjunto para garantir que todos, independentemente da idade, tenham acesso ao melhor tratamento possível.