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Opinião | O Verdadeiro Impacto do Conflito Entre Israel, Hezbollah, Hamas e Irã

2024-09-30

Para entender a profunda repercussão da agressão militar de Israel contra o Hezbollah, é crucial contextualizar essa ação na dinâmica atual das relações internacionais, que, no fundo, substituiu as velhas rivalidades da Guerra Fria por novas coligações e tensões. Os conflitos em curso na Ucrânia, em Gaza e no Líbano são partes de uma disputa global que envolve potências como Rússia, Irã, Coreia do Norte e até China.

A tentativa da Ucrânia de se integrar à Europa e se libertar da influência russa contrasta diretamente com os esforços de Israel e da Arábia Saudita para estabelecer laços de normalização no Oriente Médio, o que poderia representar um golpe significativo para o Irã. Se a Arábia Saudita e Israel formarem uma aliança, isso não só criaria um novo bloco de inclusão nessa região como também isolaria o Irã e seus aliados, como Hezbollah, houthis no Iémen e milícias xiitas no Iraque, que já comprometeram a estabilidade de suas nações.

O Hezbollah, sob a liderança de Hasan Nasrallah, é amplamente detestado no Líbano e em várias partes do mundo árabe. Isso se deve ao fato de que o grupo praticamente sequestrou o país e serviu como um instrumento de imperialismo iraniano, levando ao empobrecimento e à desgraça do povo libanês. Conversando com Orit Perlov, analista do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel, ela mencionou a onda de felicitações nas redes sociais árabes após a queda de Nasrallah, levantando pedidos para um cessar-fogo unilateral que permitisse ao Exército libanês retomar o controle do sul do país e evitar a destruição total de Beirute, como ocorreu em Gaza. Os libaneses temem um retorno à guerra civil, resultado da manipulação do Hezbollah, aliado do ditador sírio Bashar Assad, em seu apoio à repressão de revoltas populares.

Entretanto, o fim de Nasrallah deve ser apenas o primeiro passo para uma paz duradoura que beneficie libaneses, israelenses e palestinos. A administração Biden-Harris tem trabalhado para estabelecer uma rede de alianças estratégicas que abrace não apenas o Oriente Médio, mas também a Ásia-Pacífico, envolvendo países como Japão, Coreia do Sul, Filipinas e Austrália. A chave para isso é a normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, condicionada a negociações com a Autoridade Palestina sobre uma solução de dois Estados.

O verdadeiro desafio é que, enquanto o primeiro-ministro israelense, Netanyahu, pode estar tentando posicionar o Irã como o principal obstáculo à inclusão e à paz, a realidade é que a normalização deve incluir um entendimento com a Palestina moderada para realmente criar um ambiente de estabilidade na região.

Avançar com um diálogo para estabelecer dois Estados com uma Autoridade Palestina reformada seria uma jogada diplomática audaciosa que solidificaria o recente triunfo militar de Israel sobre o Hezbollah e o Hamas. Isso isolaria as forças da “resistência” na região, que se veem como defensoras da causa palestina, e desestabilizaria o apoio que recebem de nações como Irã e Rússia, além de impactar até mesmo a China.

Contudo, essa ousadia exigiria que Netanyahu rompesse com a coalizão de extrema direita que o sustenta, composta por grupos que desejam a expansão total de Israel. Para alcançar uma paz verdadeira, será necessário substituir essas facções por aliados centristas dispostos a colaborar para um futuro de paz e inclusão. A hora é crítica, e a oportunidade de mudar o jogo em prol de um Oriente Médio mais seguro e próspero pode estar se revelando agora.