Ciência

O Que o DNA Revela Sobre a Adaptabilidade das Espécies em Tempos de Mudança Climática?

2024-09-26

Introdução

Como seria nosso planeta sem a diversidade impressionante de animais, plantas e microrganismos? A resposta é simples: um lugar mais monótono e menos funcional, mas a gravidade da questão vai muito além de uma questão estética. Do ponto de vista científico, a perda dessa diversidade significaria o desaparecimento de informações cruciais sobre as origens e a evolução da vida na Terra.

Mudanças climáticas e a biodiversidade

Infelizmente, as mudanças climáticas geradas pela ação humana podem estar nos levando a um futuro devastador, onde a biodiversidade se reduz drasticamente. Apesar da urgência do tema, a compreensão de como as diversas espécies respondem a essa crise ainda está em seus estágios iniciais.

Mecanismos de adaptação

Em resposta às mudanças climáticas, organismos em condições naturais podem se deslocar para ambientes mais favoráveis ou se adaptar às novas realidades, seja por meio da plasticidade fenotípica—capacidade de mudar características fisiológicas e comportamentais—ou por meio da adaptação evolutiva, que envolve mudanças genéticas. Esses mecanismos dependem de tempo, habilidade de dispersão e diversidade genética—fatores cruciais para a sobrevivência das espécies.

Espécies vulneráveis

Mas, quem realmente sairá ganhando ou perdendo nesse cenário? Anfíbios e répteis, por serem ectotérmicos—ou seja, dependentes da temperatura do ambiente—são especialmente vulneráveis às mudanças climáticas. Pequenas variações podem impactar severamente seu tempo de atividade e, consequentemente, aumentar o risco de extinção local.

Desafios na pesquisa

Enquanto a seleção natural pode moldar padrões de variação genética, um dos principais desafios da ciência é investigar evidências empíricas dessas adaptações e como elas influenciam a diversidade biológica. Muitas análises se concentram apenas na tolerância das espécies ao aquecimento, sem considerar sua capacidade de se ajustar evolutivamente.

Pesquisa em colaboração

Recentemente, meu laboratório no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) colaborou com pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade de Gotemburgo (Suécia) e dos Jardins Botânicos de Kew (Reino Unido) para investigar as adaptações climáticas em populações de organismos amazônicos. Publicamos um estudo na revista *Diversity and Distributions* que utiliza dados genômicos de uma espécie de lagarto, o calango da mata (Kentropyx calcarata), para analisar as relações entre genética e ambiente, em face de cenários climáticos futuros.

Resultados da pesquisa

A pesquisa promete elucidar como as adaptações climáticas podem se propagar ao longo da Amazônia e prevenir a extinção de populações vulneráveis. Notamos que a variação genética das populações de calangos se estrutura em dois grupos principais: um, nas áreas mais secas e sazonais; outro, nas regiões mais úmidas. Em um cenário moderado de mudanças climáticas, as populações adaptadas às seca poderão alcançar áreas que as populações mais vulneráveis perderão, permitindo assim um "resgate" da diversidade.

Implicações futuras

No entanto, caso não haja uma gestão eficaz e se o cenário se tornar extremo, a perda da distribuição potencial dessas espécies será significativa, resultando em uma redução drástica das chances de resgate evolutivo e um aumento alarmante no risco de extinção local.

Importância da governança

É crucial que haja uma governança proativa para garantir um futuro em que a biodiversidade continue a florescer. A proteção das florestas e a mitigação das mudanças climáticas são essenciais não apenas para a sobrevivência de espécies ectotérmicas, mas para a conservação da riqueza biológica da Amazônia como um todo.

Conclusão

Os resultados da nossa pesquisa reforçam a importância de entender a adaptabilidade das espécies e o que pode ser feito para mitigar os impactos adversos de um clima cada vez mais hostil. A corrida pela preservação da biodiversidade é contra o relógio, e as escolhas que fizermos hoje terão repercussões enormes para o futuro do nosso planeta.

A ciência ainda tem muito a descobrir sobre a adaptabilidade das diferentes espécies e como podemos usar esse conhecimento para proteger a biodiversidade em um mundo que enfrenta pressões climáticas sem precedentes.