O Luto Silencioso dos Idosos que Não se Tornaram Avós
2024-11-14
Autor: Gabriel
Lydia Birk, de 56 anos, guarda uma cópia amada de "O Coelho de Veludo", um livro que leu para seus filhos quando eram pequenos. Agora, na faixa dos 20 e 30 anos, seus filhos decidiram não ter filhos. Embora respeite as escolhas deles, Lydia sente uma profunda tristeza por não se tornar uma avó. "Essa parte da minha vida acabou", confessa.
O caso de Lydia não é isolado. Um número crescente de adultos da geração X e dos baby boomers enfrenta o mesmo dilema: a realidade de que, por várias razões, não se tornarão avós. Dados recentes mostram que, em 2021, apenas pouco mais da metade dos adultos com mais de 50 anos tinham pelo menos um neto, uma queda em relação aos quase 60% em 2014. Essa mudança está ligada, em grande parte, à queda das taxas de natalidade e ao desejo de muitos jovens de não ter filhos.
"Essa é a melhor e a pior parte de ser pai", afirma John Birk Jr., o marido de Lydia. "Ver seus filhos tomando decisões que são diferentes das suas." Os pais, muitas vezes, enfrentam um sentimento de perda e saudade, mesmo sabendo que seus filhos não lhes devem um legado familiar. Para Claire Bidwell Smith, terapeuta e autora, essa tristeza é uma forma de luto que a sociedade tende a ignorar, pois normalmente os netos são vistos como recompensas da vida.
Os sentimentos de exclusão e falta de legado podem ser avassaladores, conforme relata Christine Kutt, de 69 anos. Ela sempre sonhou em compartilhar sua paixão pelo rock 'n' roll e suas receitas de família com netos, especialmente depois de ter seu único filho aos 42 anos. Contudo, sua filha é firme na decisão de não ter filhos, citando preocupações sobre o estado do mundo e mudanças climáticas. Christine se debate entre apoiar a escolha da filha e a esperança de que ela mude de ideia.
Porém, essa ausência de netos pode ser mais que uma questão de achar que os filhos não seguirão seus passos. A psicóloga Maggie Mulqueen observa que muitos pais se questionam sobre suas habilidades parentais, se sentiram que falharam de alguma forma ao não ter netos.
Jill Perry, de 69 anos, expressa que mesmo apoiando as decisões de suas filhas, sentir que seria um ótimo momento para ser avó a faz sentir a perda ainda mais aguda. "Quando vejo amigos disfrutando com seus netos, sinto como se estivesse perdendo algo", reflete. Para ela, a expectativa de ter uma 'casa divertida' para as crianças é um sonho que parece distante.
Para lidar com essa dor, especialistas aconselham que os não-avós explorem diferentes formas de se conectar com crianças. Seja através do voluntariado ou ao participar ativamente na vida de crianças da família ou amigos.
A situação não é fácil, e o luto por não se tornar avô pode se tornar um tema de solidão e reflexão sobre o envelhecimento. Contudo, a vida continua, e é fundamental encontrar novos caminhos e aventuras para preencher o vazio deixado por uma experiência que pode não chegar a acontecer.