
O Inesperado Papel das Baratas na Revolução Energética
2025-08-31
Autor: Pedro
Baratas! Quem diria que esses insetos, frequentemente vistos como indesejados em nossas casas, poderiam ser aliados na transição energética? Pesquisadores do Instituto de Biociências da USP e da UFRJ estão apostando na utilidade dessas criaturas para impulsionar uma matriz energética mais limpa.
Estes insetos, com uma dieta surpreendentemente eclética, desempenham o papel de 'faxineiros' da natureza, ajudando a decompor matéria orgânica. Embora muitos os considerem sujos, as baratas mantêm o equilíbrio ecológico ao se alimentar de resíduos diversos, desde folhas secas até dejetos.
Ao longo de milhões de anos, as baratas desenvolveram um sistema digestivo que as torna verdadeiras máquinas de degradação, capazes de transformar materiais orgânicos de forma extremamente eficiente. O professor Marcos Buckeridge, do Departamento de Botânica do IB, lidera um estudo para entender como a barata Periplaneta americana, a típica encontrada nas cidades, degrada a biomassa.
"Queríamos saber quais enzimas ajudam a atacar a biomassa", explica Buckeridge. Compreendendo como plantas e animais processam esses materiais, é possível identificar funções que podem ser adaptadas para a indústria. Essa abordagem biomimética mostra um enorme potencial para o setor bioenergético, especialmente ao explorar o bagaço da cana-de-açúcar.
"Aumentar a eficiência na degradação da biomassa é vital para a produção de etanol", continua o pesquisador. Os achados, publicados na revista BioEnergy Research, indicam uma possível redução de custos e um aumento da eficiência industrial, acelerando a transformação da biomassa em energia.
Mas calma! A ideia não é lotar usinas de etanol com baratas, mas sim aprender com suas técnicas digestivas eficientes. Ednildo Machado, coautor do estudo, ressalta que entender o processo digestivo das baratas pode levar à criação de soluções mais baratas e sustentáveis para a produção de energia.
Trabalhando juntos há quase vinte anos, Buckeridge e Machado buscam alternativas sustentáveis para a produção de bioetanol, evitando produtos químicos agressivos, e promovendo a integração do homem com a natureza.
O truque das baratas está em degradar a parede celular de vegetais com notável eficiência. Durante a produção de etanol, a cana de açúcar é o ingrediente principal; a tecnologia brasileira transforma a celulose do bagaço em açúcar, que é fermentado e destilado para gerar etanol.
Um dos grandes desafios é a viabilidade econômica desse processo, que, apesar de menos custoso do que a mineração, ainda apresenta altos custos. Se conseguirem replicar o coquetel de enzimas encontrado no intestino das baratas, a produção de etanol pode se tornar mais barata e eficaz.
"Se produzirmos mais etanol de forma mais econômica, utilizaremos menos área, o que também reduz as emissões de carbono", enfatiza Buckeridge. Ele também sugere que mudanças na estrutura industrial poderão facilitar this integração com modelos naturais.
Além de estudarem baratas, a equipe planeja investigar cupins e larvas de besouros, que podem oferecer ainda mais possibilidades para a indústria de bioenergia. Afinal, os cupins apresentam uma capacidade incrível, degradando quase 90% da celulose.
A cada descoberta, fica ainda mais claro que olhar para a natureza pode ser a chave para um futuro energético mais sustentável. Baratas, inicialmente vistas como pragas, podem realmente ser aliadas inesperadas na construção de um mundo mais verde.