O hospital de SP que está transformando vidas com transplantes de órgãos
2024-10-28
Autor: Matheus
"Ter uma parte do meu irmão vivo e poder ajudar. Ele se foi, mas deu vida e uma nova chance para outras pessoas." Esta emocionante afirmação é de Estela Athaydes Martins, gerente de Recursos Humanos, que enfrentou a dura realidade da perda de seu irmão, Sadraque Muni Martins, de 24 anos. Após um trágico acidente de atropelamento, a família foi abordada sobre a possibilidade da doação de órgãos em um momento de dor e desespero. Embora Sadraque nunca tivesse discutido a doação, a acolhida compassiva da equipe médica foi crucial para a decisão da família.
"Foi um momento muito difícil, e, às vezes, não conseguimos pensar sozinhos e precisamos de apoio. O desespero era imenso porque tudo aconteceu de forma tão repentina", revelou Estela.
Sadraque foi declarado com morte cerebral após quase uma semana internado. Com a autorização da família, órgãos como coração, fígado, rins e córneas foram doados, proporcionando esperança a outros pacientes. Estela compartilhou que recebeu acompanhamento psicológico e suporte contínuo dos médicos, que mantiveram a família informada sobre cada passo do processo.
Acolhimento e Sensibilização: A Chave do Sucesso
O Hospital de Base, localizado em São José do Rio Preto, não só pioneiro em transplantes, mas também um modelo de acolhimento familiar e sensibilização sobre a doação de órgãos. Desde 2011, a capacitação de enfermeiros, médicos e psicólogos com uma abordagem humanizada tem sido uma prioridade da instituição. O objetivo é aumentar o número de famílias que autorizam a doação.
"É fundamental entender as fases do luto e comunicar sobre a perda com cuidado. Nossos profissionais passam por um treinamento rigoroso para lidar com as famílias em momentos tão críticos. Somente após esse acolhimento discutimos a doação de órgãos", explica João Fernando Picollo, médico nefrologista e coordenador do departamento de OPO (Organização de Procura de Órgãos).
Além de oferecer treinamento à sua equipe, o hospital também estende essa capacitação a profissionais de saúde de outras instituições da região, ajudando a estabelecer uma rede de suporte no processo de doação.
Conscientização Além das Atrações do Hospital
O Hospital de Base também realiza ações de conscientização na comunidade, promovendo palestras e campanhas anuais em praças e shoppings, enfatizando a importância de discutir a doação de órgãos com familiares. Durante esses eventos, são realizados testes de glicemia, aferição de pressão arterial e tipagem sanguínea, além de incentivar a doação de sangue, essencial para a compatibilidade durante os transplantes.
Outra iniciativa significativa envolve estudantes de 14 a 17 anos de escolas locais. Durante um semestre, eles recebem aulas com médicos do HB, que esclarecem dúvidas sobre transplantes. Ao final do curso, os alunos fazem uma visita ao hospital para conhecer a unidade de captação de órgãos.
"Precisamos difundir a cultura da doação de órgãos na sociedade. Quanto mais informadas as pessoas estão, maior a probabilidade de se tornarem doadoras, e quando a família conhece essa vontade, a abordagem se torna muito mais simples", destaca Picollo.
Resultados Impressionantes: Crescimento de Transplantes
Após a implementação dos treinamentos, o Hospital de Base registrou um crescimento de 108% no número de transplantes realizados, consolidando-se como referência na área. De 199 transplantes em 2013, o hospital saltou para 414 em 2023. O transplante de medula óssea liderou com 1.175 procedimentos, seguido pelo de rins (1.122) e córneas (562).
A região de São José do Rio Preto vive um cenário admirável, com 45 doadores de órgãos por milhão de habitantes, próximo ao da Espanha, que possui 49 doadores por milhão. Esses números superam a média do estado de São Paulo, que é de 24 doadores, e a média nacional de 19,9 doadores por milhão, de acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes.
Atualmente, a taxa de autorização das famílias para doação no Brasil é de 55%, enquanto em São José do Rio Preto o número chega a impressionantes 75%.
"É um trabalho contínuo, que construímos ao longo do tempo. O crescimento no número de transplantes depende do crescimento do hospital como um todo. Com muita dedicação, formamos uma equipe médica especializada em transplantes, o que é um grande desafio, já que a prática de consultório é geralmente mais lucrativa", conclui Mário Abbud, nefrologista e coordenador do Centro de Transplantes de Órgãos. **E você, já conversou sobre a doação de órgãos com sua família?** Essa é uma conversa que pode salvar vidas!