Ciência

O Guardião dos Peixes-Boi Africanos: Cientista Enfrenta Desafios para Salvar Espécie em Perigo

2025-01-05

Autor: Pedro

A jornada de um cientista apaixonado pelos peixes-bois africanos é marcada por experiências que vão além do esperado. "Esperava vê-los como no YouTube: em águas claras, saltando como golfinhos... uma ideia totalmente surrealista", confessa com um sorriso o doutor em biologia, que se transforma em um verdadeiro guardião das vacas marinhas do Lago Ossa, em Camarões.

Localizado em um parque natural no sudoeste de Camarões, o Lago Ossa abriga esses mamíferos em suas águas sombreadas. O pesquisador, agora movido pela paixão pelo peixe-boi africano, transformou essa espécie um dia esquecida em seu principal objeto de estudo durante seu doutorado na Universidade da Flórida. Em 2024, sua dedicação será reconhecida com o Prêmio Whitley, uma das máximas honrarias em conservação ambiental.

Durante uma de suas expedições, a pesquisadora americana Sarah Farinelli também se emocionou ao observar cinco exemplares, incluindo uma fêmea e seu filhote. "É impressionante! Existem lugares na África onde é impossível avistá-los", destaca Sarah, que realiza pesquisas na Nigéria. Essa dificuldade na observação torna os peixes-bois africanos ainda mais fascinantes, uma vez que muitos aspectos de sua vida ainda estão envolvidos em mistério: quantos Trichechus senegalensis existem? Qual a sua expectativa de vida? Quando e para onde migrarão?

Distribuídos ao longo da costa oeste da África, desde a Mauritânia até Angola, esses peixes-bois são considerados como uma espécie vulnerável, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Takoukam Kamla, fundador da AMMCO, a organização dedicada à proteção de mamíferos marinhos na África, critica a avaliação da IUCN, argumentando que a realidade da espécie é ainda mais alarmante devido à caça ilegal e aos habitats ameaçados.

Em um lago onde o único predador é o homem, a história dos peixes-bois sofreu uma reviravolta significativa. Anteriormente, a carne do peixe-boi era um prato comum na cidade de Dizangué, mas a pesca da espécie foi interditada e agora, o foco está na preservação. Uma estátua azul em homenagem ao animal se ergue na cidade, simbolizando esse novo compromisso.

Entretanto, os desafios permanecem. Aristide, um dos guardas florestais, aponta para uma refinaria de óleo de palma que polui ativamente as águas do lago. A luta contra a pesca ilegal se intensifica quando um pescador expressa sua indignação em relação às restrições: "Se quiserem nos impor proibições, terão que nos pagar todo mês!", insiste o homem, ressaltando a necessidade de um equilíbrio entre a conservação e a subsistência da comunidade.

A interação entre cientistas e comunidades locais nem sempre é harmoniosa. Contudo, eventos calamitosos, como o surgimento da planta invasora salvínia gigante em 2021, forçaram uma parceria necessária. Cientistas pediram a colaboração dos pescadores para eliminar a planta invasora, e juntos, iniciaram uma "batalha biológica" usando gorgulhos que atacam a salvínia. Após três anos de esforço, o controle da planta foi alcançado, permitindo que o lago se tornasse mais viável para a fauna aquática.

Com a confiança estabelecida, os cientistas agora buscam expandir essas colaborações e desenvolver um circuito de ecoturismo. "Isso não só protege os peixes-bois, mas também oferece uma fonte de renda alternativa para a comunidade local", afirma Gilbert Oum Ndjocka, guarda florestal do Parque Nacional Douala-Edea. Tornar-se aliados na conservação é a chave para o futuro dos peixes-bois africanos, uma espécie que ainda pode ter muito a oferecer ao mundo, se receber os cuidados que merece.