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O Casal que Processou o Google e Ganhou R$ 14 Bilhões: A História Por Trás Da Vitória

2024-10-28

Autor: Julia

Shivaun e Adam Raff - Foto: Reprodução/BBC

"O Google basicamente nos fez desaparecer da internet."

Os dias de lançamento podem ser emocionantes, mas para muitos empreendedores, também são aterrorizantes. Para Shivaun Raff e seu marido Adam, esse dia se transformou em uma verdadeira batalha. Em junho de 2006, o casal estava prestes a lançar o Foundem, um site pioneiro de comparação de preços, resultado de anos de trabalho árduo e sacrifício de empregos bem remunerados.

Mal sabiam eles que aquela ocasião marcaria o início do fim da empresa. O Foundem foi atingido por uma penalidade imposta pelos filtros automáticos de spam do Google, que resultou em rebaixamento nas listas de pesquisa para termos relevantes como "comparação de preços". Assim, a receita do site, que dependia dos cliques dos usuários, despencou.

"Vimos nossas páginas despencarem quase que imediatamente", comenta Adam, lembrando com pesar do que já foi um projeto promissor. O que se seguiu foi uma batalha legal que durou 15 anos, culminando na multinacional Google sendo condenada a pagar uma multa recorde de € 2,4 bilhões (aproximadamente R$ 14,7 bilhões) por abuso de seu poder de mercado.

Esse processo se tornou emblemático na luta pela regulamentação das grandes empresas de tecnologia no mundo. A condenação, anunciada pela Comissão Europeia em 2017, levou o Google a lutar contra a decisão por sete anos, sendo finalmente rejeitada pelo Tribunal de Justiça Europeu em setembro deste ano.

Em uma entrevista ao programa The Bottom Line, da BBC Radio 4, Shivaun e Adam revelaram que, inicialmente, pensaram que o problema era apenas um erro pontual. "No início, acreditávamos que isso era só um dano colateral", afirma Shivaun, de 55 anos, ressaltando a esperança de que a situação se revertesse. Adam completa: "Se o tráfego para o seu site é negado, você não tem um negócio."

Depois de inúmeras solicitações ao Google sem resposta, o casal percebeu que não eram os únicos a sofrerem com a penalização. Em 2017, cerca de outras 20 queixas também foram levantadas contra a companhia, incluindo reclamações de empresas como Trivago e Yelp.

Inspirado pelo potencial do mercado, Adam teve a ideia do Foundem enquanto fumava um cigarro fora de seu antigo local de trabalho. "Ninguém mais chegou perto dessa ideia", diz Shivaun, lembrando que a plataforma oferecia uma comparação de uma vasta gama de produtos, de roupas a passagens aéreas.

Em 2017, durante o julgamento, a Comissão Europeia concluiu que o Google havia se envolvido em práticas anticompetitivas ao promover seu próprio serviço de comparação em detrimento de concorrentes. Adam não desconfiava que a gigante da tecnologia estivesse adotando uma postura deliberadamente anticompetitiva. "Eles não eram competidores sérios nesse setor", disse ele.

A gota d'água aconteceu em 2008, quando eles perceberam que algo estava errado com o aumento repentino de acesso ao site. O Foundem tinha sido nomeado como o melhor site de comparação de preços do Reino Unido por um programa de TV, e eles tentaram se comunicar com o Google. Contudo, receberam uma resposta desprezível. "Naquele momento decidimos que era hora de lutar", revela Adam.

Procurando apoio na imprensa e órgãos reguladores dos EUA e Europa, o casal finalmente encontrou respaldo na Comissão Europeia em 2010, onde uma investigação antitruste foi aberta. "Acreditamos que havia um medo generalizado das empresas em processá-los, devido à dependência do tráfego do Google para o sucesso de seus negócios."

O veredicto final, anunciado pela comissária Margarethe Vestager, não trouxe alívio imediato. A luta por justiça ainda continua. Em março deste ano, sob uma nova legislação, a Comissão Europeia iniciou outra investigação contra a Alphabet, controladora do Google, para verificar se a empresa continua a favorecer seus próprios serviços.

O casal também busca ação civil contra o Google, que deve começar a ser julgado no primeiro semestre de 2026. Contudo, mesmo que vençam, isso não trará de volta o Foundem, que foi fechado em 2016, após anos de batalha judicial desgastante. "Se soubéssemos que levaria tantos anos, talvez não tivéssemos feito a mesma escolha", admite Adam, refletindo sobre os desafios enfrentados durante essa longa jornada.