Shivaun e Adam Raff — Foto: Reprodução/BBC

"O Google essencialmente nos fez desaparecer da internet."

A jornada de muitos empreendedores é repleta de altos e baixos, mas para Shivaun e Adam Raff, o lançamento de seu site Foundem em junho de 2006 se transformou em um pesadelo. O casal, que deixou empregos bem remunerados para criar uma plataforma inovadora de comparação de preços, logo enfrentou a amarga realidade de uma penalidade severa do Google.

Após o lançamento, o Foundem foi rapidamente punido pelo algoritmo de pesquisa do Google, que o rebaixou nas listas de resultados para termos críticos, como "comparação de preços". Essa ação devastou as chances de lucro da empresa, já que o site dependia de cliques dos usuários.

Adam relembra: "Monitorávamos nossas classificações e vimos todas despencarem quase que instantaneamente." O que se seguiu foi uma batalha legal de 15 anos, que culminou em 2023 com uma multa recorde de € 2,4 bilhões (cerca de R$ 14,7 bilhões). O Google foi declarado culpado por abusar de seu domínio de mercado, um marco significativo na regulação de grandes empresas de tecnologia.

A primeira reação do casal foi imaginar que o insucesso do site era um mero erro. Shivaun, de 55 anos, revelou: "No começo, pensávamos que isso era um dano colateral, bastaria escalar a plataforma e a penalização seria retirada." Porém, à medida que o tempo passava e as solicitações ao Google eram ignoradas, eles perceberam que a situação era mais grave.

A revelação de que mais de 20 outras empresas, incluindo Kelkoo e Yelp, haviam sofrido tratamento semelhante reforçou suas suspeitas sobre a injustiça da situação que enfrentavam. O Foundem, que oferecia uma ampla gama de comparações de produtos — de roupas a passagens aéreas —, deveria ter um lugar reconhecido no mercado de comparação online.

Durante o demorado julgamento em 2017, a Comissão Europeia posicionou-se a favor do casal, afirmando que o Google promovia seu próprio serviço de comparação nos resultados de pesquisa, ao mesmo tempo que diminuía a visibilidade de concorrentes. Essa decisão foi o resultado do trabalho incansável de Shivaun e Adam em juntar aliadas para lutar contra o gigante da tecnologia.

O momento decisivo veio em Bruxelas, quando a comissária de competição Margarethe Vestager anunciou a decisão que esperavam há anos. Contudo, a alegria foi moderada; o casal focou em pressionar para que a Comissão efetivasse sua decisão.

"Não gostamos de valentões", declarou Shivaun. Apesar da vitória inicial, novas investigações continuaram e, com a nova Lei de Mercados Digitais em vigor, a Alphabet, empresa-mãe do Google, está sob escrutínio novamente.

Mas a batalha não termina aí. Eles têm uma ação de danos civis contra a empresa marcada para o primeiro semestre de 2026. Contudo, o fechamento do Foundem em 2016 é um lembrete cruel dos custos que essa luta levou ao casal. Adam admite: "Se soubéssemos que levaria tanto tempo, talvez não tivéssemos tomado a mesma decisão."

A história inspiradora de Shivaun e Adam não é apenas uma luta contra o Google, mas um alerta sobre os desafios enfrentados por pequenos negócios no mundo digital dominado por grandes corporações. Como as pequenas empresas podem fazer frente a gigantes da tecnologia que manobram o mercado em sua própria vantagem? Essa é a questão que permanece. Não perca as atualizações dessa saga impressionante – o que virá a seguir para o casal que desafiou o Google?