Nazismo, Política e Biologia: Uma Reflexão Urgente
2025-01-27
Autor: Ana
No dia 27 de janeiro, o mundo se une para celebrar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Em 2025, este dia marca os 80 anos da libertação dos prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, o mais notório do regime nazista. Essa data se torna um poderoso lembrete do lema "nunca esquecer" e da importância de evitar que atrocidades semelhantes se repitam. Porém, a memória do passado pode ser insuficiente se não cuidarmos da relativização dos horrores presentes.
O racismo científico que culminou no Holocausto não nasceu com o regime nazista; suas raízes são profundas e se estendem a períodos anteriores, persistindo desde então. A ideia de eugenia e a crença na superioridade de algumas ‘raças’ sobre outras formaram uma teia de opressão que se espalhou por várias partes do mundo, não se limitando à Alemanha. É crucial que nossa memória histórica não seja seletiva.
Adolf Hitler, em seu manifesto Mein Kampf, afirmou em 1925 que a Califórnia, nos Estados Unidos, era um exemplo de Estado com tentativas de concepção de cidadania que ele considerava fracas. Essa elogio se baseava em eventos lamentáveis da história estadunidense, como a esterilização forçada de aproximadamente 20 mil pessoas entre 1909 e 1979, sob a justificativa de controlar a população de indesejáveis, incluindo imigrantes e pessoas com deficiências.
Para aqueles que acreditam que a eugenia é uma questão do passado, um escândalo alarmante em 2020 nos Estados Unidos revela o contrário. Um centro de detenção de imigrantes na Geórgia foi acusado de procedimentos de esterilização em imigrantes, frequentemente sem consentimento, revelando que práticas desumanizadoras ainda persistem sob novas formas.
O uso indevido da ciência para apoiar ideais racistas permeia a história da humanidade. Cientistas têm frequentemente contribuído para a desumanização de grupos, encobrindo discriminações com um verniz de cientificidade. Rudolf Hess, vice de Hitler, descreveu o nazismo como “biologia aplicada.” Antes mesmo da implementação da 'solução final', a Alemanha nazista estabeleceu os chamados “tribunais sanitários de hereditariedade”, onde médicos e geneticistas decidiam quem deveria ser esterilizado por serem considerados 'indesejados'. Inicialmente focados em condições físicas e mentais, rapidamente esses tribunais miraram na população judaica como parte de um plano de limpeza étnica.
Indiscutivelmente, é perturbador pensar que esses eventos ocorreram há apenas 80 anos com grupos como judeus, ciganos, pessoas com deficiência e a comunidade LGBTQ. O que é ainda mais preocupante é que práticas semelhantes ainda persistem hoje, especialmente em relação a imigrantes. A discussão do direito de cidadania nos Estados Unidos, especialmente com decretos como o que foi proposto por Donald Trump para revogar o direito ao nascimento, ecoa as ideias de exclusão da era nazista. Essa atitude nega o princípio fundamental de que os Estados Unidos são uma nação de imigrantes.
Retirar os direitos elementares dos imigrantes não é apenas um retrocesso moral; é um perigoso paralelo com as práticas eugênicas do passado. O chamado “nunca esquecer” precisa ser ampliado para “nunca relativizar”, uma advertência contra a repetição dos erros da história. Que possamos aprender e nos posicionar contra todas as formas de discriminação e opressão, preservando a dignidade e os direitos humanos de todos.