Ciência

Na Busca pelo 'Grande Amor', Perdemos os Amores da Vida Diária

2024-09-23

Em um mundo tão conectado digitalmente, é raro encontrarmos oportunidades realmente significativas de interação com colegas, amigos, parentes e até mesmo desconhecidos ao mesmo tempo. Esses momentos inesperados revelam os círculos concêntricos de afeto que cultivamos, variando do amor intenso e arrebatador ao carinho sutil que podemos sentir por um estranho. É surpreendente como um simples olhar ou uma confissão sincera pode abalar nossas emoções, provando que as interações humanas ainda são essenciais para nossa felicidade.

Esses encontros nos lembram de que, sem a eletricidade da convivência humana, a vida pode se tornar uma jornada monótona, repleta de angústia e agressão. A busca incessante pelo 'grande amor', aquela ideia romantizada que se impõe sobre nós, pode nos cegar para as nuances dos relacionamentos que realmente enriquecem nossas vidas, mas que muitas vezes ignoramos.

A ansiedade gerada pela incerteza em relação ao que cada pessoa nos provoca leva a uma classificação hierárquica das relações: "meu isso, meu aquilo". Essa necessidade de controle emocional pode causar um adoecimento psíquico, conforme explicado pela psicanálise, em que os sentimentos reprimidos eventualmente se manifestam em formas de sofrimento.

O amor é um enigma, uma busca constante por reconhecimento e conexão. Simultaneamente, o amor ocupa um espaço social e carrega suas próprias regras, que são frequentemente taxadas, moralizadas e judicializadas. Como bem disse o icônico Gilberto Gil: "As coisas não têm paz". Essa complexidade nos faz perceber que o amor vai além do que tradicionalmente é entendido, abrangendo tanto o afetivo quanto o erótico em diferentes dimensões.

Sigmund Freud, por exemplo, foi criticado por sua visão ampliada da sexualidade, que vai muito além do ato sexual. Essa visão nos leva a entender que o amor não se restringe apenas aos relacionamentos românticos; ele também aparece nas relações de amizade e na família, revelando que até mesmo um recém-nascido se beneficia da troca de afeto desde o início da vida.

Embora as convenções sociais tentem organizar as relações afetivas, é importante lembrar que o desejo humano e as conexões emocionais são intrínsecas e incontroláveis. A chave para navegar por essas diversas relações amorosas está na honestidade consigo mesmo, reconhecendo e assumindo os efeitos que as experiências têm sobre nós.

Milton Nascimento nos lembra que "qualquer maneira de amar vale a pena", e é fundamental que abracemos o amor em suas variadas formas, incluindo o amor fraterno, seja por pessoas próximas ou distantes, respeitando a individualidade e o consentimento. Em última análise, o amor é efêmero, mas nos proporciona experiências que tornam a vida realmente valiosa, nos ensinando a apreciar cada momento do nosso percurso afetivo.