Saúde

Musculação: a Chave para Proteger o Cérebro dos Idosos contra a Demência?

2025-04-01

Autor: João

Praticar musculação não é apenas sobre ganhar força e resistência; é um investimento vitalício para a saúde cerebral, especialmente em idosos. Um estudo inovador realizado pelo Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (Brainn), vinculado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), revelou que atividades físicas de musculação podem ser uma arma poderosa contra a demência.

Publicada na renomada revista GeroScience, a pesquisa acompanhou 44 idosos com comprometimento cognitivo leve, uma condição que se encontra entre o envelhecimento normal e a doença de Alzheimer. O resultado foi surpreendente: aqueles que se dedicaram à musculação, pelo menos duas vezes na semana, apresentaram preservação significativa de áreas cerebrais cruciais, como o hipocampo e o pré-cúneo, que costumam ser afetadas durante o desenvolvimento de demências.

Além disso, uma descoberta original feita pelos 16 pesquisadores foi a melhoria na substância branca do cérebro, fundamental para a comunicação neuronial. Metade dos participantes que incorporaram a musculação em suas rotinas experimentou melhorias em suas funções cognitivas já após seis meses, com a expectativa de que os resultados se tornassem ainda mais expressivos ao longo do tempo.

"Todos os que praticaram musculação mostraram melhorias significativas na memória e na saúde cerebral. Impressionantemente, cinco deles não apresentavam mais o diagnóstico de comprometimento cognitivo leve ao final do estudo", destacou Isadora Ribeiro, a principal autora do artigo e doutoranda da Fapesp.

Os pesquisadores utilizaram testes neuropsicológicos e exames de ressonância magnética para avaliar as mudanças. A pesquisa demonstrou que a atrofia cerebral, que é a redução do volume de certas regiões cerebrais em pacientes com comprometimento cognitivo, pode ser revertida com a prática regular de exercícios físicos.

No Brasil, cerca de 2,71 milhões de pessoas com 60 anos ou mais vivem com demências, representando 8,5% dessa população, sendo que essa taxa pode dobrou até 2050, alcançando 5,6 milhões, segundo o Relatório Nacional sobre Demência, publicado pelo Ministério da Saúde.

Além disso, o relatório revela que quase metade (45%) dos casos de demência poderiam ser prevenidos. Fatores como baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, depressão e inatividade física estão entre os principais responsáveis pelo aumento do risco.

A experiência de Shirley de Toro, uma professora aposentada e modelo de 62 anos, exemplifica perfeitamente como a atividade física transformou sua vida. Após diversas complicações de saúde, incluindo uma cirurgia cerebral e um acidente que lhe causou múltiplas fraturas, ela encontrou na musculação a chave para sua recuperação física e mental.

"Comecei a me exercitar para me sentir melhor, e os resultados foram incríveis. Depois do que passei, a musculação me ajudou a eliminar as dores que eu sentia", relata Shirley, que se exercita no Sesc Santana em São Paulo há 17 anos. Sua história é um testemunho poderoso da importância da musculação para manter a saúde e qualidade de vida na terceira idade.

Alessandra Nascimento, técnica do Sesc, ressalta a crescente evidência dos benefícios dos exercícios para a mente e o corpo, não limitando-se a modalidades como natação ou ciclismo. "A calistenia, que utiliza o peso do próprio corpo, também está se tornando popular entre os idosos, provando que não precisamos deixar de lado a força e a resistência à medida que envelhecemos."

Infelizmente, a percepção de fragilidade associada aos idosos ainda impera, mas a realidade é diferente. Pesquisa após pesquisa revela que é essencial para os mais velhos adotarem um programa regular de treinamento de força. Além disso, a importância de políticas públicas que garantam o acesso à educação física para a população idosa é um clamor urgente.

"A inclusão de profissionais de educação física nas Unidades Básicas de Saúde e no SUS é crucial", conclui Alessandra. "Um acompanhamento multidisciplinar pode fazer toda a diferença na vida desses indivíduos."

Portanto, se você ou alguém que você ama está na terceira idade, talvez seja hora de reconsiderar o papel da musculação na saúde cerebral. A atividade física não apenas fortalece os músculos, mas também protege o cérebro contra adversidades, ajudando a manter a demência à distância. Não deixe para amanhã: comece hoje a cuidar do seu futuro.