Mundo não parece muito melhor agora, dizem alemães 35 anos após a queda do muro
2024-11-09
Autor: Ana
Neste sábado (9), Berlim celebrou os 35 anos da queda do Muro de Berlim, um marco que simbolizou a divisão da cidade e do mundo em um período pós-guerra. A festa contou com mais de quatro quilômetros de cartazes ao longo do trajeto da antiga estrutura, acompanhados de música ao vivo, vinho quente e cerveja, tudo isso para reviver as memórias de um passado recente.
Neste contexto, a Alemanha enfrenta uma crise política que pode impulsionar a ascensão da extrema direita no país e, ao mesmo tempo, os EUA cogitam o retorno de Donald Trump à presidência. Nesse cenário, a comemoração trouxe à tona reflexões sobre um tempo em que parecia haver esperança na resolução dos conflitos da Guerra Fria e na consolidação da democracia.
O mundo em 2024 é bem diferente do que era há 35 anos, mas a pergunta que ecoa entre os participantes da celebração é: estamos melhor agora? Para muitos, o otimismo da época parece uma lembrança distante.
Sophie Jähnigen, uma funcionária pública de 35 anos que nasceu após a queda do muro, compartilhou sua perspectiva: "Quando eu nasci, diziam que eu precisava de liberdade. Mas será que realmente temos isso agora? O capitalismo tem muitos pontos cegos." Ela destaca que, embora a vida na Alemanha Oriental fosse simples, havia uma felicidade que às vezes sentem falta no contexto atual.
A menção a Trump surge em vários depoimentos: "Agora os EUA estão elegendo Trump novamente, e nós aqui na Alemanha enfrentamos eleições complicadas. É difícil afirmar se o mundo está melhor ou não", comenta.
Melina Treifeld, de 31 anos, que se mudou da Rússia para Berlim, expressa uma opinião otimista, mas realista: "Eu vivenciei a propaganda e a desinformação. Acredito que devemos dialogar com pessoas que têm visões diferentes. "
Enquanto isso, a coalizão do chanceler social-democrata Olaf Scholz enfrenta dificuldades e ele é pressionado pela oposição para antecipar as eleições, que parecem propensas a favorecer partidos conservadores e de extrema direita, como a CDU e a AfD. O engenheiro Sebastian Schanz, de 31 anos, menciona a incerteza que permeia a sociedade: "As cidades mais à esquerda, como Berlim, sentem essa insegurança de maneira mais intensa."
A situação atual preocupa muitos, incluindo estudantes como Lucas Yeit, de 24 anos, que considera que "o futuro não parece promissor, tanto na economia quanto na política. O principal problema, na minha visão, é a falta de perspectivas claras."
Stefan Langstetler, um aposentado de 66 anos que foi cinegrafista durante a queda do muro, acredita que as novas gerações não compreendem o que realmente aconteceu na antiga Berlim, falando sobre a vigilância e repressão que as pessoas enfrentavam. "Hoje, as pessoas veem o muro como um mero ponto turístico, e não têm noção do que aquilo representava."
Ele aponta que a realidade política atual não parece muito melhor do que no passado: "Estamos elegendo líderes como Trump e reclamando de tudo, mas a verdade é que ninguém quer fazer sua parte para melhorar a situação." Em meio a essa reflexão, as comemorações de 35 anos da queda do muro servem como um alerta sobre os desafios ainda presentes na sociedade.