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'Meu avô foi o maior assassino em massa da história'

2024-11-11

Autor: Gabriel

Kai estava no ensino fundamental quando um professor mencionou um nome que o intrigou durante a aula de história: Rudolf Höss, o homem que supervisionou o maior campo de concentração da Segunda Guerra Mundial, Auschwitz. Ele percebeu que tinha o mesmo sobrenome. "Comecei a prestar atenção, porque era familiar", contou Kai Hoss no programa de rádio Outlook da BBC. A descoberta chocante veio quando sua mãe revelou: "Sim, ele é seu avô".

Rudolf Höss foi responsável pela morte de mais de 1,13 milhão de pessoas, principalmente judeus, durante seu tempo em Auschwitz. A revelação deixou Kai angustiado. "Quem quer ter alguém assim como avô?" Ele se tornou um gerente de hotéis e, eventualmente, pastou evangélico, mas a revelação de sua sobrenome manchado pelo passado impactou sua vida de maneiras que ele nunca imaginou.

Na infância, tudo parecia normal para Kai: ele cresceu em uma casa tranquila, sem qualquer referência ao nazismo ou ao passado sombrio de sua família. Seu pai, Hans Jürgen Höss, era uma pessoa fechada, enquanto sua mãe era mais sociável. As menções sobre o avô eram superficiais, refletindo uma relação de amor entre Hans e seu pai.

Quando Kai decidiu ler o livro de memórias de seu avô, as revelações foram devastadoras. Rudolf Höss escreveu sua autobiografia enquanto aguardava a execução em 1947 e, em suas páginas, ele detalhou o método de extermínio e os horrores que supervisionou. Kai sentiu um turbilhão de emoções: vergonha, culpa, incredulidade. "Foi difícil aceitar que sou descendente de alguém que causou tanta dor", lamentou.

Logo após essa descoberta, a vida de Kai mudaria novamente quando seus pais decidiram se divorciar. A tensão familiar dificultou a discussão de um passado tão carregado, e Kai se afastou da Alemanha. Depois de anos morando nos EUA, um telefonema inesperado de seu pai, muitos anos após o divórcio, reabriu uma porta para um relacionamento que parecia perdido. Hans, agora com 87 anos, havia encontrado uma nova família, mas Kai decidiu tentar renovar os laços.

Para confrontar o passado, pai e filho participaram do documentário "A Sombra do Comandante", que narra suas experiências e traumas intergeracionais. A conexão emocional mais forte ocorreu ao conhecer uma sobrevivente de Auschwitz. "Ver essa mulher de 90 anos, que sofreu tanto, em nossa casa, foi um momento poderoso", compartilhou Kai.

Juntos, pai e filho visitaram o campo de extermínio. Kai descreveu a experiência como profundamente dolorosa, repleta de lágrimas ao perceber os locais onde tantos foram brutalmente assassinados. Hans, ao enfrentar a história de seu pai, também se emocionou: "Ele estava em silêncio, e disse que o avô recebeu a punição justa por seus crimes".

Kai já conversou sobre esses eventos com seus filhos menores e acredita que é essencial manter a memória do Holocausto viva. "Devemos ensinar nossas crianças sobre isso, para que nunca esqueçam e se esforcem para impedir que algo assim se repita", concluiu.