Incertezas no G20: Lula teme a mudança de postura dos EUA com a vitória de Trump
2024-11-11
Autor: Gabriel
Às vésperas da cúpula do G20, agendada para os dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, o Brasil caminha com uma mistura de otimismo e apreensão. Embora tenha colhido frutos significativos na diplomacia internacional, existe um temor palpável sobre a possibilidade de mudanças drásticas na política externa dos Estados Unidos, especialmente após a eleição de Donald Trump para um novo mandato na Casa Branca. O governo Lula avalia que Trump, notoriamente avesso a compromissos internacionais, não deverá apoiar as iniciativas promovidas por seu antecessor, Joe Biden.
Possíveis consequências dessa mudança de postura incluem a negação das discussões sobre mudanças climáticas e a falta de suporte para esforços globais de combate à fome e à pobreza, áreas em que o Brasil tem pressionado por um entendimento mais profundo durante a cúpula.
Enquanto isso, o Brasil conquistou importantes avanços na discussão da taxação de super-ricos e a interligação entre comércio internacional e desenvolvimento sustentável, mas as adesões a políticas concretas de combate à fome ainda estão em dúvida. A liderança brasileira no G20 se destaca neste contexto, mas há uma preocupação crescente em relação a como os EUA, sob a direção de Trump, poderão impactar esses diálogos.
Neste cenário, a relação entre Lula e Biden se torna ainda mais crucial, com Lula buscando garantir que a Aliança Global contra a Fome, formada em conjunto com os EUA, siga em frente. Nos telefonemas recentes, a confirmação da presença do presidente americano e uma visita a Manaus demonstraram a intenção de Biden de dialogar, mas isso não elimina as incertezas quanto a um eventual desprezo por compromissos ambientais.
A cúpula representa para o Brasil uma valiosa vitrine no renascimento da política externa nacional, mas especialistas alertam sobre a fragilidade das promessas assumidas. Flavia Loss, especialista em Relações Internacionais, aponta que Trump poderá priorizar questões que não envolvem compromissos sustentáveis, desafiando outros países a se organizarem para que suas propostas, especialmente no que tange ao meio ambiente e ao combate à fome, sejam efetivamente implementadas.
O embaixador Maurício Lyrio, que atua como negociador junto ao G20, enfatiza a necessidade de aprovar uma declaração de compromissos durante a cúpula. Para ele, a superação da fome deve ser abordada através de políticas públicas eficazes que consigam captar recursos de forma mais eficiente. A meta é que a aliança contra a fome permaneça ativa até 2030, coincidentemente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU.
Com 730 milhões de pessoas enfrentando a fome globalmente, Lyrio destaca a urgência da situação, mostrando que este é um desafio que não pode ser ignorado. Ele também menciona a importância de preparar o Brasil para a COP30, que ocorrerá em Belém em 2025, onde será essencial alinhar recursos nacionais com iniciativas de combate ao aquecimento global.
No aspecto econômico, o Brasil tem se mostrado positivo em sua atuação, conseguindo consenso em questões como a criação de um imposto mínimo sobre multimilionários, que pode gerar bilhões de dólares a mais para financiar iniciativas sociais. Essa proposta reflete a necessidade de revisitar a governança global, que inclui a reforma de organizações multilaterais, com a esperança de que a África do Sul, ao assumir a presidência do G20 em 2025, possa levar essa pauta adiante.
A vitória de Trump traz consequências profundas que colocam o Brasil em uma posição delicada, levando a questionamentos sobre quais compromissos de longo prazo poderão realmente ser cumpridos e como as nuvens da incerteza se dissiparão sobre a cúpula do G20.