Desvalorização do Plantão: Profissionais da Saúde Enfrentam Salários Baixos em meio à Crise Hospitalar na Bahia
2024-11-16
Autor: Matheus
Em meio ao tumultuado cenário de compra e venda de hospitais na Bahia, os profissionais de saúde estão encontrando dificuldades extremas com salários cada vez mais defasados.
A psicóloga Juliana*, de 36 anos, trabalha em um hospital privado em Salvador e enfrenta uma dura realidade. Durante um plantão de 12 horas, ela recebe cerca de R$ 250 para prestar cuidados emocionais aos pacientes e colaborar efetivamente com a equipe de saúde. "A equipe é reduzida. A carga de trabalho é intensa e constantemente estamos sobrecarregados. O cansaço é físico e mental", relata.
Nos últimos anos, a situação se agravou com a onda de aquisições de hospitais por grandes redes privadas. A mais recente polêmica surgiu quando rumores sobre a venda do Hospital da Bahia à Rede D'or geraram agitação no setor, obrigando as partes a desmentirem a notícia. Essa Rede já opera quatro hospitais em Salvador e na região, revelando um padrão de aumento da concentração do setor.
O que se deve notar é que, enquanto enormes receitas circulam entre os grupos de saúde, os profissionais ficam com uma fração diminuta desse montante. Um levantamento do CORREIO indica que há, pelo menos, duas categorias que recebem menos de R$ 100 por plantão. Os médicos, tradicionalmente os mais bem pagos, não têm alterações em seus vencimentos para plantões há mais de uma década. Os valores médios giram em torno de R$ 1.050.
"Sempre trabalhei na área de saúde e venho de uma família de médicos, mas a realidade é cruel. Se tivesse que escolher agora, pensaria em atuar em outra divisão dentro da psicologia", pondera Juliana. A falta de valorização é reflexiva da pressão constante que todos os envolvidos precisam enfrentar, pois suas responsabilidades são críticas para a manutenção da vida.
No entanto, a desvalorização não é restrita apenas aos profissionais que atendem humanos. Veterinários também enfrentam uma realidade alarmante. Com um salário médio para plantões de R$ 120 a R$ 150, muitos relatos indicam remuneração ainda menor, variando de R$ 60 a R$ 90, surpreendendo pela sua defasagem considerando a importância de seu trabalho para a saúde animal e prevenção de zoonoses.
Bianca*, uma médica veterinária de 27 anos, denuncia as condições de trabalho. "É comum que o veterinário seja visto como um 'faz-tudo'. Com que frequência se espera que a mesma pessoa cuida, limpa e faz atendimentos? As expectativas são totalmente descabidas", ressalta.
Com a alta formação de novos médicos e veterinários, o mercado fica saturado, o que leva a um ciclo de subemprego e aceitação de condições inadequadas. Essa situação é ainda mais crítica em áreas como pediatria, onde a escassez de especialistas contrasta com a alta demanda por atendimento.
Os hospitais privados de Salvador estão repassando salários baixos mesmo para outras categorias de saúde. Fisioterapeutas, por exemplo, trabalham por valores que variam de R$ 225 a R$ 380 por plantão de 12 horas, mas em alguns casos, o pagamento ficou ainda mais baixo, como demonstrado pela denúncia sobre o Hospital 2 de Julho, onde profissionais chegaram a ser pagos R$ 14,14 por hora, o que causou indignação e mobilização da classe.
A pressão por custos baixos levou muitos hospitais a demitirem funcionários experientes, substituindo-os por profissionais mais jovens e, muitas vezes, menos qualificados para reduzir gastos. Essa prática, aliada à precarização das relações de trabalho, faz com que muitos profissionais aceitem condições de trabalho que não garantem seus direitos básicos, incluindo férias e licenças.
A luta por melhores condições de trabalho se intensifica com a mobilização de sindicatos e organizações de trabalhadores. É essencial que o governo baiano tome medidas efetivas para promover concursos públicos e garantir a valorização de quem atua na saúde, uma área já tão cheia de desafios. O Sindicato dos Médicos e outros representantes da classe lutam por diálogos e condições que sejam condizentes com a importância de uma profissão que atua na linha de frente da vida e da saúde da população.
As estatísticas mostram que, por lei, o salário base de um veterinário deveria ser de R$ 7,2 mil para 30 horas semanais, mas essa realidade é ainda distante para muitos. Por isso, há um apelo urgente pela revisão dessa situação, considerando não apenas os números, mas o impacto na saúde pública e no bem-estar da sociedade.
Com a crescente carga de trabalho exigida e o retorno financeiro sendo frequentemente inadmissível, os profissionais da saúde destacam a necessidade urgente de reavaliação das remunerações e das condições em que operam, para garantir que possam continuar a desempenhar seu papel vital sem sucumbir à exaustão e à precarização.