Impacto do Câncer de Mama nos Casamentos: Mulheres Enfrentam Chances Dobras de Divórcio
2024-10-31
Autor: Lucas
Um estudo crucial, conhecido como AMAZONA II, foi realizado entre janeiro de 2016 e março de 2018 em 23 instituições de saúde no Brasil. Esta pesquisa revelou que mulheres diagnosticadas com câncer de mama que recebem tratamento pelo sistema público de saúde, incluindo procedimentos como mastectomia e adenomastectomia, têm aproximadamente o dobro de chances de se divorciarem ou se separarem em comparação com a média da população.
As taxas de divórcio convencionais giram em torno de 2,6%, enquanto entre as pacientes oncológicas, essa taxa sobe para cerca de 5,6% a 5,8%. Esse fenômeno, infelizmente, é recorrente. De acordo com Susana Ramalho, oncologista clínica e chefe do Departamento de Tumores Femininos do Grupo SOnHe, a dinâmica familiar e social se transforma de maneira significativa durante o tratamento: "Relacionamentos sólidos podem se fortalecer, mas aqueles que já têm conflitos tendem a se desgastar ainda mais."
O abandono por parte do parceiro geralmente ocorre entre o primeiro e segundo ano de tratamento, um período crítico em que as mulheres mais precisam de apoio emocional e físico. Natália Gil, coordenadora do serviço de Psicologia da Oncoclinicas RJ, pontua que existem diferentes tipos de suporte oferecidos pelos maridos: "Alguns são suporte instrumental, enquanto outros proporcionam apoio emocional. É crucial que os homens aprendam a cuidar, pois muitas vezes, a mulher, tradicionalmente vista como a cuidadora, se vê em uma posição de vulnerabilidade."
Além da falta de apoio, o câncer causa mudanças profundas na autoimagem e identidade da mulher, além de estresse significativo na relação e na vida do casal. O tratamento muitas vezes se torna o foco central, e as perspectivas e preocupações dos parceiros podem mudar drasticamente. Natália enfatiza a importância do diálogo: "A situação mudou, mas a relação não deve mudar de forma negativa. Adaptar-se à nova rotina é fundamental para a sobrevivência do relacionamento."
Sinais de problemas no relacionamento incluem a diminuição da presença do parceiro nas consultas médicas, o aumento da tristeza da paciente e a eventual falta de interesse em cirurgias reconstrutivas. Muitas mulheres, após o término da relação, passam pelo processo de ressignificação dessa dor, reconhecendo que, em última análise, podem encontrar liberdade e autoconhecimento.
Vânia Cristina Cardoso, de 45 anos, vivenciou esse desafio. Diagnosticada com câncer de mama em 2016, Vânia passou por tratamento intenso e até mesmo teve a coragem de raspar a cabeça. Apesar do apoio inicial, ela enfrentou a falta de empatia e reconhecimento por parte do marido, especialmente durante a recidiva da doença em 2020, acabando por se separar. "A pressão emocional e a falta de entendimento dele faziam com que eu me sentisse menos mulher. Foi doloroso, mas aprendi a resgatar minha autoimagem e meu amor-próprio", compartilha Vânia.
Hoje, após várias batalhas, Vânia celebra sua nova vida com um parceiro que a apoia e respeita. "Consegui me reerguer, e hoje sou uma mulher forte e amada. As cicatrizes que carrego são testemunhas da minha luta e da minha vitória." Essa história ilustra não apenas os desafios enfrentados por mulheres com câncer de mama, mas também a necessidade de compreensão e apoio emocional em tempos de vulnerabilidade. O que parece ser um fim para muitos pode, na verdade, ser um novo começo.