
Greve Nacional: Entregadores do iFood Prometem Parar São Paulo Após Negativa em Reunião
2025-03-31
Autor: Maria
Na maior mobilização de entregadores em São Paulo desde o histórico #BrequeDosApps de 2020, cerca de dois mil trabalhadores realizaram uma motociata na Avenida Paulista e dirigiram-se à sede do iFood em Osasco nesta segunda-feira (31). O protesto é parte do Breque Nacional de 48 horas, que acontece em cerca de 60 cidades, clamando por um aumento da taxa mínima por corrida de R$ 6,50 para R$ 10.
Após aguardar horas sob chuva em Osasco, os entregadores receberam uma negativa da empresa. Eles se dispersaram em grupos, distribuindo-se por várias zonas da capital e região metropolitana com o objetivo de bloquear a saída de entregas dos principais shoppings da cidade.
Os entregadores planejam paralisar os pedidos durante o horário de jantar desta segunda até a noite de terça-feira (1), quando também está programada uma mobilização nacional.
Uma das lideranças da greve, ao falar em cima de um carro de som, garantiu: "A greve vai continuar. Eles não deram a mínima, mas perceberam que o movimento está forte no país inteiro, e vamos agir de forma a transmitir a mensagem de que a situação é injusta. Não podemos nos deixar ser tratados como trouxas. Vamos parar o país inteiro!"
Além do aumento na taxa mínima, as reivindicações incluem reajuste na remuneração de R$ 1,50 para R$ 2,50 por quilômetro rodado; a limitação de um raio de 3 quilômetros para entregas feitas em bicicleta; e o pagamento integral por corrida, mesmo quando pedidos são agrupados na mesma rota.
As demandas foram apresentadas por uma comissão de nove entregadores que, após pressão, foram recebidos em uma reunião fechada na sede da empresa, que contou com a presença de João Sabino, diretor de Políticas Públicas do iFood, e Johnny Borges, diretor de Impacto Social da empresa, já conhecido por lidar com movimentos de trabalhadores.
O acesso dos grevistas à sede da empresa foi tumultuado, com discussões acaloradas entre os próprios entregadores sobre a necessidade de um diálogo com um representante do iFood em público. A empresa negou esse pedido, mas alguns consentiram que um grupo de líderes pudesse entrar, desde que a reunião fosse transmitida ao vivo.
A negociação foi mediada pela Polícia Militar, e após a autorização de entrada, os integrantes da comissão foram escoltados individualmente ao interior da empresa. No entanto, durante a reunião, foram impedidos de gravar a conversa. Esse fato causou mais dissentimento entre os manifestantes, alguns dos quais se sentiram desconfortáveis com a falta de transparência.
Um dos fundadores da Aliança Nacional dos Entregadores de Aplicativos (Anea), Jr. Freitas, exclamou: "Sem nós, não há iFood, não há aplicativo algum. Vamos até o fim, bloqueando todos os pontos e continuando engajados nesta luta!"
Com buzinas, sons de escape de motos e gritos de "vamos, rapaziada, é o breque", milhares de entregadores se reuniram na manhã desta segunda em frente ao Estádio do Pacaembu. Em suas faixas, mensagens como 'Bilhões para o iFood, migalhas para os motoboys' e 'iFood, Rappi, 99 e Uber: parasitas promovedores da escravidão moderna' eram proferidas.
André S., um motoboy de 19 anos da região da Faria Lima, uma área central do mercado financeiro brasileiro, comentou: "O iFood coloca nossa vida em risco diariamente para nos pagar uma taxa mínima de R$ 6,50. Isso é inaceitável! Estamos aqui hoje contra a superexploração e precarização do trabalho."
Os entregadores ocuparam uma faixa inteira da Avenida Paulista, recebendo gestos de apoio de pedestres. Em uma intervenção dramática em frente ao Masp, colocaram tinta vermelha no chão ao lado de uma mochila e papel alumínio, imitando um corpo, para simbolizar as altas taxas de mortalidade em sua categoria.
Somente na cidade de São Paulo, o número de mortes de motociclistas subiu cerca de 20% no ano passado, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Em 2024, foram 483 mortes, um aumento referente às 403 ocorrências em 2023.
Os grevistas argumentam que a letalidade da profissão é resultado da precarização. "Se tivéssemos uma remuneração justa, não precisaríamos correr ou trabalhar exaustos, por mais de 12 horas por dia", defende Diego Silva, de 20 anos, que perdeu um amigo entregador no ano passado.
O protesto, amplamente registrado por vídeos de celular, teve tanto lideranças quanto influenciadores participando das falas no caminhão de som. Dois parlamentares, a vereadora Luana Alves (Psol) e o deputado federal Delegado Palumbo (MDB), com visões políticas divergentes, foram impedidos de se pronunciar no microfone.
O almoço dos manifestantes foi parcialmente assegurado por 300 marmitas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Alexandre dos Santos, que atua como entregador há sete anos, fez um alerta sobre a situação atual: "As plataformas pagam o mínimo do mínimo. A gente vai ao mercado e não consegue acompanhar os preços, seja de alimentos ou do combustível. Estamos lutando por isso e não vejo ninguém defendendo os motoboys. Quando trabalhamos, muitas vezes somos desrespeitados. Estou aqui para lutar por melhores condições, porque merecemos isso. Trabalhamos na chuva, no sol, e o mínimo que eles devem fazer é nos reconhecer!"
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Abomitec), que representa empresas como iFood, Uber e 99, respeita o direito de manifestação e informou que a renda média dos entregadores teria crescido 5% acima da inflação entre 2023 e 2024. Contudo, a reportagem também questionou o iFood sobre a negativa às demandas e a razão pela qual a PM mediou a entrada dos entregadores. Em resposta, a empresa confirmou a reunião com os manifestantes e reiterou que retornará com posições sobre as reivindicações apresentadas.