Recentemente, a atriz Fernanda Torres conquistou um prêmio internacional que a colocou no centro de um intenso debate político no Brasil. Enquanto isso, o soldado israelense Yuval Vagdani deixou o Brasil após a Justiça Federal do Distrito Federal determinar a apuração de crimes de guerra supostamente cometidos por ele em Gaza. Essa situação gerou reações fervorosas de políticos e influenciadores bolsonaristas, que afirmaram estar vivendo uma "perseguição" e uma "afronta à soberania de outro país". No entanto, o foco da mídia rapidamente se deslocou para a atriz, que se tornou tema de discussões acaloradas nas redes sociais.

De acordo com dados da Quaest, mais de 72% das menções à atriz foram positivas, aplaudindo seu trabalho e considerando sua conquista uma vitória nacional. Em contrapartida, apenas 7% das menções eram críticas, a maioria vindo de bolsonaristas que acusavam Torres de fazer uso indevido da lei Rouanet para financiar o filme "Ainda Estou Aqui", baseado na obra de Marcelo Rubens Paiva, e insinuando que ela defenderia as vítimas da ditadura, mas não os golpistas do 8 de janeiro.

A pesquisa da Quaest revelou que a narrativa dos bolsonaristas não encontrou ressonância significativa nas redes sociais. Felipe Nunes, cientista político e diretor da Quaest, observou que a arte, ao estabelecer um diálogo potente com o público, consegue neutralizar narrativas políticas manipuladas. "Em tempos de política pop, onde os políticos tentam copiar o entretenimento, a vitória de Fernanda Torres demonstra a força da cultura na formação da opinião pública", ressaltou Nunes.

O filme, dirigido pelo renomado Walter Salles, aborda o impacto da ditadura civil-militar (1964-1985) na vida cotidiana de uma família e se mostra didático, atingindo especialmente o público jovem, que muitas vezes desconhece os horrores desse período. A trama conecta gerações e traz à luz discussões necessárias e urgentes sobre direitos humanos e memória.

Durante o final de semana da premiação, Fernanda Torres se destacou como a melhor atriz mais comentada nas redes sociais, superando até mesmo nomes consagrados como Angelina Jolie e Nicole Kidman. Nas postagens em português, Torres recebeu impressionantes 89% das menções, enquanto em inglês, obteve 66% - uma prova de sua abrangência e importância no cenário cultural. Para efeito de comparação, Jolie ficou com 14%, Kidman 8%, Winslet 6%, Anderson 4% e Swinton apenas 2%.

A polarização em torno do nome de Torres reflete o ambiente tumultuado da política brasileira, onde arte e ativismo frequentemente se entrelaçam. Em uma sociedade fragmentada, a trajetória de Fernanda e sua recente conquista artística se tornam não apenas um símbolo de resistência, mas também um convite à reflexão sobre os desafios e conquistas dos direitos humanos no Brasil.