Nação

Ex-ministro critica Lula: 'Falta visão estratégica para o agro'

2024-10-29

Autor: Lucas

Roberto Rodrigues, 82 anos, professor emérito da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-ministro da Agricultura no governo Lula, não tem poupado críticas ao atual presidente em seu terceiro mandato. Para Rodrigues, Lula carece de uma visão estratégica que poderia impulsionar o agronegócio brasileiro e protegê-lo da concorrência internacional.

"Acredito que há um desafio universal à frente, que podemos ajudar a resolver com estratégia e protagonismo. Porém, parece que o governo não está se atentando a isso. Fico frustrado com essa situação", afirmou Rodrigues. Ele elogia os esforços do atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, mas aponta que o governo, de maneira geral, não tem demonstrado um forte interesse em estabelecer acordos comerciais com nações consumidoras significativas, como China e Índia.

Entre os problemas apontados, Rodrigues destaca a morosidade na aplicação do código florestal por parte dos estados, algo crucial para a defesa do meio ambiente e a redução do desmatamento no Brasil. Na última terça-feira (29), o ex-ministro participou da Lide Brazil Conference, em Londres, promovida pela Folha, UOL e Lide.

A trajetória do agronegócio brasileiro é marcada por êxitos, mas desafios como a preservação ambiental e a mudança climática precisam ser tratados com seriedade. Desde os anos 1990, a área plantada com grãos no Brasil aumentou 111%, enquanto a produção cresceu estonteantes 445%. No entanto, a questão climática e a escassez de chuvas este ano sinalizam um alerta.

Além disso, Rodrigues enfatiza que 48% da matriz energética brasileira é renovável, em comparação com apenas 15% no restante do mundo. Ele argumenta que a agricultura é responsável por cerca de 25% dessa matriz, o que demonstra a potência do setor. "O grande desafio dos países desenvolvidos é a dependência do petróleo. Precisamos liderar a transição energética", observa.

Outro ponto que Rodrigues aborda é a urgência em combater o desmatamento ilegal, um problema que compromete a imagem do Brasil no mercado global. "Ilegalidade deve ser tratada como uma questão de política pública. O desmatamento, os incêndios criminosos e invasões de terras precisam ser erradicados", sublinha.

Desafios econômicos ameaçam o futuro do setor, especialmente com a desaceleração da economia chinesa, que é um dos principais importadores de alimentos brasileiros. Rodrigues aponta que, apesar de o Brasil ter se mostrado forte nos últimos 30 anos, o mundo está de olho nas perspectivas futuras. O agronegócio brasileiro exportou impressionantes US$ 166 bilhões no último ano e está previsto que essa cifra aumente ainda mais, o que inevitavelmente levanta um desafio de competitividade e confiabilidade no mercado global.

Rodrigues conclui que a falta de uma visão estratégica consistente por parte do governo brasileiro é preocupante. Ele destaca a necessidade da implementação efetiva do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e de uma maior colaboração entre níveis de governo para erradicar a ilegalidade e promover a sustentabilidade no agronegócio.

"O Brasil tem uma liderança inquestionável na tecnologia agrícola tropical sustentável. Se bem orientado, pode não apenas atender à demanda global por alimentos mas se tornar um exemplo de como preservar o meio ambiente e promover o desenvolvimento econômico", finaliza.