
Ex-jogador do Palmeiras agora brilha como entregador no Mercadão da Lapa
2025-04-03
Autor: Ana
Jorge Préa, conhecido por sua velocidade em campo, conquistou os corações de torcedores, mas é nas ruas da Casa Verde, bairro que o viu crescer em São Paulo, que ele carrega um apelido que ecoará para sempre. "Meu padrinho de casamento, que morava perto de mim na infância, me chamou de Préa porque eu corria muito. Eu corria da minha mãe, jogando bola na rua. No início, não gostava do apelido, mas acabou pegando", revelou ele em entrevista.
A jornada tardia na carreira
Ao contrário da maioria dos atletas que despontam cedo, Préa teve sua carreira profissional impulsionada apenas aos 23 anos, após inúmeros testes em peneiras. "As coisas começaram a mudar quando fui para o Pelotas, no Rio Grande do Sul, depois de ser aprovado em uma peneira organizada pelo César Sampaio. Antes disso, jogava na várzea desde os 15", contou.
No Pelotas, ele rapidamente se destacou, marcando três gols em seu primeiro jogo, e se tornou artilheiro do campeonato, embora o time não tenha conseguido o acesso.
Reconhecido por sua passagem marcante pelo Palmeiras
Jorge Préa hoje vive uma realidade bem diferente: ele é entregador no Mercadão da Lapa, um local icônico em São Paulo. "Trabalho no açougue do seu Carlos, em dois boxes. Faço entregas nas ruas de São Paulo, em restaurantes e até em prédios", continuou Préa, que está nesse trabalho há cinco anos e expressa sua gratidão: "Estou muito feliz, graças a Deus."
Ainda envolvido com o futebol, Préa não abandonou os gramados. Ele participa do projeto Chute Inicial, em associação com o Corinthians, onde transmite sua experiência e paixão para crianças que sonham em se tornar jogadores de futebol.
A trajetória no Palmeiras e as lições aprendidas
Após momentos brilhantes no Rio Grande do Sul, Préa teve uma chance internacional na Coreia do Sul, que foi interrompida devido a uma lesão no joelho. Ao voltar ao Brasil, acabou sendo contratado pelo Palmeiras. "Tive um problema no joelho, retornei para tratamento e o Vanderlei Luxemburgo reconheceu meu talento e pediu minha contratação."
Embora não tenha tido muitas oportunidades no time principal, ele recorda com carinho das lições de Luxemburgo, destacando-o como o melhor treinador que já teve. "Ele me ensinou muito sobre postura e confiança."
Durante sua passagem, Préa participou de sete jogos e deixou sua marca ao anotar um gol decisivo contra a Portuguesa, que garantiu a classificação para a semifinal do Paulistão de 2008. "Torcedores ainda me lembram desse gol com carinho", disse.
Reflexões sobre o lado obscuro do futebol
Préa também não hesita em compartilhar suas decepções com os bastidores do futebol: "O futebol é um mundo complicado. Hoje, é mais sobre dinheiro do que talento. Empresários influenciam na escalação, e muitos jogadores talentosos acabam sendo deixados para trás."
Após passagens por clubes como Athletico-PR, ABC, Cascavel e Sinop, ele decidiu encerrar sua carreira em 2019, após uma experiência dura no Real Ariquemes-RO. "Fui demitido sem explicações e não recebi o que me deviam. Entrei na Justiça e, enquanto aguardava, percebi que era possível viver sem o futebol. Precisava sustentar minha família e, por isso, fui trabalhar na Prefeitura, limpando bueiros. Meus amigos me ajudaram e, embora não fosse o ideal, fiz o que tinha que fazer."
Atualmente, Jorge Préa consegue uma renda mensal entre R$ 4 mil a 5 mil com suas entregas
As aulas na escolinha e como treinador na várzea. "Meu auge financeiro no futebol foi no meu último ano no Palmeiras, onde ganhava R$ 35 mil. Mas prefiro estar como estou agora, com consciência tranquila, tendo passado por 14 clubes e saído de todos pela porta da frente."
E, ao final, o sonho de Préa se concretizou: "Meu maior desejo sempre foi dar uma casa para minha mãe. Graças a Deus, consegui realizar esse sonho." Esta é a história de um homem que, mesmo longe dos holofotes, brilha em sua nova fase de vida.