A comida sempre foi uma fonte de prazer para Sarah Carter, uma apaixonada por saúde e culinária em San Mateo, na Califórnia. O amor por visitar feiras livres, cultivar seu próprio jardim e experimentar novos restaurantes, no entanto, sofreu um revés drástico em outubro de 2023, quando ela contraiu Covid pela primeira vez. A infecção se manifestou principalmente através de diarreia intensa, levando Sarah a ser internada na emergência devido à desidratação severa. Após vários dias de sofrimento, ela achou que tudo havia voltado ao normal, mas os problemas estavam apenas começando.

Em abril de 2024, Sarah sentiu que seu corpo havia mudado drasticamente, quase como se tivesse adquirido um novo sistema gastrointestinal. Mesmo alimentos leves e comuns, como purê de maçã e torradas, agora provocavam reações extremas. Ela frequentemente enfrentava fortes dores e inchaço, a ponto de sentir como se ácidos estivessem correndo por seus intestinos.

Após consulta com um gastroenterologista, Sarah foi diagnosticada com síndrome do intestino irritável pós-infecciosa. Essa condição, que se caracteriza por dor abdominal e episódios alternados de diarreia e constipação, pode se desenvolver após infecções gastrointestinais, incluindo a Covid-19. Infelizmente, essa não é uma experiência isolada. Desde o início da pandemia, médicos notaram um aumento significativo nos casos de síndrome do intestino irritável, com estudos sugerindo que entre 16% e 40% dos pacientes que contraíram Covid-19 podem apresentar sintomas gastrointestinais persistentes.

Mas o que exatamente a Covid pode causar no intestino?

De acordo com especialistas, sintomas gastrointestinal como náuseas, vômitos e diarreia são comuns nas fases iniciais da infecção, mas o que preocupa são os casos em que esses sintomas se prolongam por meses ou até anos. Além disso, aqueles que já enfrentavam problemas digestivos antes da Covid-19 podem sentir uma piora significativa após a infecção.

Como a Covid-19 pode desencadear esses problemas?

O coronavírus tem a capacidade de infectar as células do corpo se ligando a proteínas específicas presentes em vários tecidos, incluindo o trato gastrointestinal. Essa interação pode causar inflamações e, consequentemente, problemas digestivos. A infecção também pode afetar o microbioma intestinal, alterando a composição de micróbios benéficos e prejudiciais na flora intestinal. Como resultado, a inflamação pode danificar o revestimento do intestino e tornar suas paredes mais permeáveis, levando a reações do sistema imunológico contra certos alimentos.

Frente a esses sintomas, quais tratamentos estão disponíveis?

Embora o tempo de recuperação possa variar, muitos especialistas como William D. Chey afirmam que cerca de dois terços dos pacientes de SII se recuperam totalmente dentro de três a cinco anos. Para quem sofre com sintomas persistentes, é altamente recomendado buscar orientação médica. Consultar um gastroenterologista é especialmente urgente em casos onde há presença de sangue nas fezes ou perda de peso inexplicada.

Existem estratégias que podem ajudar na gestão da SII, como a adoção de uma dieta baixa em FODMAPs sob a supervisão de um nutricionista, além de terapias alternativas como a meditação e técnicas de relaxamento que podem contribuir para o bem-estar intestinal. Medicamentos disponíveis como loperamida para diarreia ou suplementos de óleo de hortelã-pimenta podem aliviar os sintomas também.

Sarah está lentamente se recuperando após um longo e desafiador período de oito meses. Com o apoio de profissionais da saúde, como nutricionistas e psicólogos, ela está começando a reintroduzir alguns alimentos à sua dieta com cuidado. Para ela, essa fase é semelhante a "aprender a comer novamente". Essa situação evidencia a importância de manter um controle da saúde intestinal, especialmente à luz das sequelas que a pandemia deixou no bem-estar de muitos.