Danone Sofre Pressão por Boicote Após Declarações Controversas Sobre Soja Brasileira
2024-10-29
Autor: Ana
As recentes declarações de Jurgen Esser, diretor financeiro global da Danone, geraram uma onda de indignação no setor agropecuário brasileiro. O executivo afirmou à Reuters que a empresa não mais adquire soja do Brasil, alegando que a produção não atende aos critérios de sustentabilidade.
"Temos um rastreamento muito efetivo e podemos garantir que utilizamos apenas ingredientes sustentáveis em nossos processos. Não compramos mais soja do Brasil", declarou Esser, em um contexto que se relaciona com a futura implementação do Regulamento Antidesmatamento da União Europeia (EUDR).
A repercussão das declarações foi rápida e intensa nas redes sociais, com consumidores iniciando campanhas de boicote aos produtos da Danone. A Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) criticou a postura do executivo, considerando-a um "ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania". O Ministério da Agricultura também se manifestou, condenando as "posturas intempestivas e descabidas" de empresas europeias com grande presença no Brasil.
Surge também o questionamento sobre se as exigências do EUDR influenciaram essa decisão da Danone. Embora o regulamento tenha sido adiado por um ano, as grandes empresas alimentícias, como Nestlé e Unilever, estão se ajustando proativamente para evitar multas que podem chegar a 4% do faturamento anual. No entanto, nenhuma empresa tomou uma posição tão drástica quanto a Danone, que praticamente excluiu a soja brasileira de sua cadeia de fornecimento.
Muitos especialistas, como Daniele Siqueira, analista da AgRural, ressaltam que a produção asiática de soja é insuficiente para substituir a do Brasil. Na atual safra, a Ásia produziu apenas 34 milhões de toneladas, enquanto o Brasil atingiu a marca de 153 milhões de toneladas, representando 39% da produção mundial. A maior parte da soja asiática é consumida internamente, com a China e Índia sendo os principais produtores.
A Aprosoja Brasil reitera que as afirmações da Danone refletem um desconhecimento sobre a sustentabilidade da produção brasileira. "O Brasil já atingiu a linha de desmatamento líquido zero por um longo período e seus agricultores são comprometidos com a conservação", afirma a associação.
Por sua vez, o Ministério da Agricultura defendeu a eficiência das leis brasileiras, enfatizando que o país possui um dos mais rigorosos sistemas ambientais do mundo. O Mapa também anunciou que apresentou propostas à União Europeia para modelos que poderiam garantir a rastreabilidade da produção brasileira, além de reiterar que o país não aceitará regulamentações que desconsiderem seus avanços ambientais e sociais.
Em 2022, a Europa importou 7,5 milhões de toneladas de soja do Brasil, representando 45% da demanda total do continente. A situação atual levanta preocupações sobre o impacto potencial de um boicote à soja brasileira, que se reflete não apenas na economia, mas na vida de pequenos produtores, que muitas vezes têm menos de 50 hectares de terra.
Quebra de relações comerciais, como essa proposta pela Danone, poderia resultar em um impacto social severo, especialmente nas pequenas propriedades rurais que constituem a maioria do setor agropecuário. O ex-ministro da Agricultura, Antônio Cabrera, alerta que essa generalização traz sérias consequências, deslegitimando as práticas sustentáveis adotadas por muitos produtores no Brasil.
Cabrera também critica a postura da Danone, sugerindo que, para proteger seus interesses, todos são responsáveis, inclusive os consumidores. "Se não agirmos agora, podemos nos ver diante de uma onda de empresas seguindo o mesmo caminho", alerta.
Embora a Danone tenha tentado distanciar-se da posição de sua matriz ao reiterar o compromisso com a soja brasileira, a expectativa de que isso seja suficiente para acalmar as críticas e os boicotes em potencial permanece incerta. O cenário atual exige um diálogo claro e construtivo para evitar uma crise maior que possa impactar a produção, o comércio e a relação entre Brasil e Europa.