'Cuidado Íntimo': Produtos que prometem 'melhorar' a vulva—Você precisa deles?
2024-11-03
Autor: João
Nas redes sociais, os conteúdos com as hashtags #produtosdehigienefeminina e #higienefeminina viralizaram, alcançando milhões de visualizações, especialmente no TikTok. Com isso, influenciadoras de beleza têm promovido não apenas produtos, mas também dicas para disfarçar odores naturais e tornar a vulva supostamente mais atraente, além de métodos para remoção de pelos e "desintoxicação" do útero.
Contudo, de acordo com a ginecologista Carolina Alves, a vagina possui um pH ácido que a protege contra infecções. O uso de produtos íntimos pode alterar esse equilíbrio, aumentando o risco de infecções bacterianas e fúngicas. Ela ressalta que essa região é capaz de se "autolimpar" com o uso apenas de água e sabão neutro.
— Muitos desses produtos contêm álcool e outros componentes irritantes, podendo causar desconfortos, coceiras e irritações. O risco cresce ainda mais para quem possui pele sensível — alerta a médica.
Carolina também observa que culturalmente existe uma associação entre a vulva e a sujeira. Frequentemente, ela atende pacientes que buscam maneiras de camuflar características naturais de sua anatomia.
— Muitas mulheres tentam disfarçar seu odor natural com alimentos, plantas e medicamentos, o que pode desequilibrar a flora vaginal — explica. Isso pode levar a problemas emocionais, pois é uma busca pelo que não existe.
Mariah Prado, sexóloga de 29 anos, compartilha sua experiência de inseguranças em relação à sua genitalidade. Durante a adolescência, percebeu que suas características não se assemelhavam às vulvas perfeitas que via na mídia. Essa comparação a fez sentir desconforto e insegurança, especialmente em relação ao cheiro e gosto de sua vulva, a ponto de evitar sexo oral.
Através de sua plataforma de educação sexual, a Share Your Sex (SYS), Mariah encontrou um espaço seguro para discutir esses temas. Ela confessa que testou produtos para disfarçar odores, mas ficou incomodada com cheiros artificiais. Com o tempo, percebeu que seu odor natural era, na verdade, algo que deveria ser aceito.
A pesquisa “Os estigmas da vagina”, realizada pela marca Intimus em 2020, revela que 68% das brasileiras estão insatisfeitas com a própria vulva, citando pelos, cor e cheiro como principais preocupações. Além disso, 15% das entrevistadas afirmam não olhar para a região diariamente.
A educadora sexual Clariana Leal destaca a necessidade de equilíbrio. É positivo que as mulheres cuidem de sua sexualidade, mas elas devem ser cautelosas com o que consomem. Ela observa a discrepância entre o número de produtos de beleza disponíveis para mulheres em comparação aos homens.
— Temos que ter cuidado. Novos produtos estão sempre surgindo para que as mulheres "melhorem". Isso pode prejudicar a autoimagem e a percepção corporal — observa Clara.
Segundo Carolina, mascarar o odor vaginal pode impedir que as mulheres notem condições de saúde que precisam de atenção médica. O cheiro vaginal contém feromônios, substâncias que podem atrair parceiros, facilitando a comunicação sexual.
A psicóloga Laura Meyer ressalta que a resistência e rejeição das partes íntimas por parte das mulheres podem impactar negativamente na vida sexual. Ela defende que o cheiro natural da vulva pode ser atraente para o parceiro e não deve ser camuflado com produtos artificiais.
A flora vaginal é delicada e sua desregulação pode causar problemas, por isso é essencial usar produtos adequados e com fórmulas testadas. Clariana recomenda evitar produtos que tentam fazer a vulva parecer atraente para os homens, afirmando que cada vulva é única e deveria ser apreciada como tal.
É vital que as mulheres se familiarizem com suas próprias genitálias, superando estigmas e preconceitos. Laura sugere que as mulheres se olhem com curiosidade e gentileza, entendendo que não há um formato ou cheiro certo ou errado. Os órgãos genitais são únicos, assim como impressões digitais.
Mariah, agora confortável com sua vulva, aconselha que as mulheres que ainda se sentem inseguras busquem fórmulas naturais e saudáveis. Viver a intimidade de forma saudável começa com a aceitação de si mesma, e cada mulher deve encontrar seu próprio caminho em direção à autoestima.