Nação

Crise no IBGE: Funcionários Reagem Contra a Criação de um 'IBGE Paralelo' Inspirado na China

2024-09-26

A recente proposta de criação de um 'IBGE paralelo' pelo presidente do instituto, Marcio Pochmann, está gerando um clima de revolta e descontentamento entre os funcionários. Até mesmo servidores de tendência esquerdista estão expressando insatisfação com as estratégias de Pochmann, que se inspiram em modelos de controle de dados da China.

Vários ex-diretores e servidores em posições de liderança criticam o que chamam de 'autoritarismo' e a falta de transparência nas ações de Pochmann, que visa estabelecer um sistema integrado para controlar informações no Brasil. "Ele tem uma visão megalo-maniaca e parece esquecer que a autonomia e a independência do IBGE são fundamentais para manter a confiança pública nas nossas estatísticas," afirmou um ex-servidor.

Durante um evento recente, Pochmann desqualificou a influência das grandes empresas de tecnologia (as chamadas Big Techs), acusando-as de promoverem um 'obscurantismo'. Ao mesmo tempo, ele enfatizou a necessidade de um sistema de dados 'soberano' para o país.

O clima de insatisfação aumentou após a divulgação de um manifesto anônimo que pedia mudanças urgentes no instituto. A Assibge, associação que representa os funcionários do IBGE, organizou um ato de protesto contra as ações recentes do presidente.

A criação do 'IBGE paralelo' está diretamente relacionada à Fundação IBGE+, que foi estabelecida sem discussões prévias sobre sua estrutura ou objetivos. Essa fundação pública de direito privado, que promete dar maior autonomia administrativa, foi formalmente criada em 12 de julho, mas a informação só foi divulgada internamente em setembro, gerando revolta entre os servidores que se sentiram traídos.

Os funcionários, pegos de surpresa, tiveram que recorrer a um cartório para entender as diretrizes dessa nova fundação. Pochmann, que é um crítico fervoroso da privatização, agora enfrenta sérias acusações de estar 'privatizando' o IBGE. Surpreendentemente, até funcionários de orientações mais à esquerda estão pedindo sua saída. "Isso mostra a gravidade da situação e a necessidade de reavaliação das diretrizes que estão sendo implementadas," relata um pesquisador.

A justificativa apresentada pela presidência do IBGE para a criação da Fundação IBGE+ remete à necessidade de se adaptar a um cenário orçamentário restrito, com alegações de apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Contudo, funcionários afirmam que questões relacionadas à fundação nunca foram mencionadas nas reuniões entre Pochmann e os representantes dos servidores, levantando suspeitas sobre a falta de diálogo.

Os protestos também revelaram preocupações sobre as práticas de contratações da nova fundação, que já começaram, levantando teóricos argumentos de que se tornará um espaço favorável para favorecimentos pessoais e práticas de 'clientelismo'. Um ex-diretor do IBGE confirmou: "Essa fundação provavelmente se tornará um cabide de empregos e uma série de informações confidenciais poderá ser explorada de maneira inadequada."

Até o momento, apesar do clima de crise, as estimativas de produção de dados do IBGE em áreas como inflação e PIB têm mantido a credibilidade, algo que os servidores esperam que continue. Contudo, o clima de insegurança e descontentamento pode comprometer essa imagem se as práticas atuais não forem adequadas e não se estabelecer uma reestruturação clara e democrática do instituto.

Adicionalmente, a proposta de um Sistema Nacional de Geociência, Estatísticas e Dados (Singed), que Pochmann pretende estabelecer, levanta preocupações sobre a possibilidade de um controle excessivo sobre os dados que circulam no país. Funcionários afirmam que essa ideia remete a um modelo de controle autoritário que contraria os valores democráticos do Brasil.

Em suma, a falta de clareza sobre os objetivos e a estrutura do IBGE paralelo está gerando um ambiente de incerteza e revolta entre os trabalhadores do setor, que se sentem ameaçados pela proposta de criação de uma fundação que poderia abalar a independência e a essência do instituto. Especialistas apontam que uma reforma de tal magnitude deve ser discutida amplamente, evitando o autoritarismo e garantindo a transparência nas operações do IBGE.