Ciência

Crise em Belo Monte: O preço de ignorar as advertências científicas

2024-10-01

A situação crítica do rio Xingu, que abastece a Usina de Belo Monte, foi recentemente declarada pela Agência Nacional de Águas (ANA). Com isso, a produção de energia na usina, uma das mais controversas da Amazônia, corre o risco de ser severamente prejudicada. Belo Monte, marcada por conflitos envolvendo direitos indígenas e impactos ambientais, tem deixado cicatrizes profundas que ainda não foram resolvidas. Especialistas, como o climatologista Carlos Nobre, já haviam alertado há mais de uma década sobre as consequências da mudança climática na região, que poderia levar a um regime hídrico alterado, comprometendo a geração de energia da usina.

O fenômeno da seca, que afeta a área atualmente, não é um evento isolado; as secas se tornaram mais frequentes e intensas nos últimos anos. Em 2022, a região também enfrentou períodos críticos de estiagem. Embora muitos desejem evitar uma nova seca, os especialistas já previam esses riscos e chegaram a assinar um manifesto contra a construção de Belo Monte, destacando as futuras alterações no regime hídrico como uma das principais preocupações.

Os defensores da usina a apresentavam como a maior do Brasil, com uma capacidade de produção de 11 mil megawatts, enquanto críticos afirmavam que raramente ela operaria em sua capacidade total. Esse temor se confirmou, e a urgência das lições aprendidas não pode ser subestimada. É essencial que, ao planejar a produção de energia e obras de infraestrutura, as vozes da ciência sejam ouvidas e que a realidade das mudanças climáticas seja incorporada nas decisões.

Além disso, enquanto o Reino Unido dá um passo histórico ao fechar sua última usina elétrica a carvão, o Brasil continua dependendo dessa fonte de energia, ainda que tenha inúmeras alternativas renováveis disponíveis. O subsídio à energia poluente só agrava a situação.

Portanto, o Brasil deve agir com seriedade diante das advertências dos cientistas, reconhecendo que suas análises não são motivações antidesenvolvimentistas, mas sim chamadas urgentes para uma mudança de paradigma. O cenário das próximas décadas exige que as mudanças climáticas sejam uma consideração fundamental em todas as decisões econômicas, energéticas e de infraestrutura do país.