Cloroquina: Estudo é Retratado Quatro Anos e Meio Após Polêmica Publicação
2024-12-18
Autor: Maria
Quatro anos e meio após a controversa publicação que sugeria a eficácia da hidroxicloroquina contra o Sars-CoV-2, o vírus responsável pela covid-19, a revista eLife finalmente reconheceu a falha do estudo. Este retratamento revela uma virada significativa na compreensão da comunidade científica sobre o uso da cloroquina e seus supostos benefícios. “Essa é uma notícia incrivelmente boa”, comentou Elisabeth Bik, especialista em integridade científica, ao site da Nature. Em suas palavras, “esse artigo nunca deveria ter sido publicado — ou deveria ter sido retirado imediatamente após sua publicação.”
Durante o auge da pandemia, sem vacinas e com o número de mortes aumentando rapidamente, o estudo de Didier Raoult, um microbiologista francês, ganhou notoriedade, mas logo foi alvo de críticas severas devido à sua metodologia falha. Raoult já havia sido retratado em 27 outros trabalhos anteriores, levantando ainda mais desconfiança sobre suas alegações.
O apoio do governo brasileiro a esse estudo foi surpreendente; na época, o então presidente Jair Bolsonaro distribuiu 2,8 milhões de doses de cloroquina, um medicamento cujo uso original era para tratar malária, totalizando um gasto de R$ 90 milhões aos cofres públicos. De forma semelhante, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendia publicamente o medicamento.
Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incentivou que cientistas investigassem o real potencial da cloroquina. No entanto, todos os estudos subsequentes concluíram que não havia benefícios clínicos comprovados. Embora o medicamento demonstrasse destruir o vírus em testes de laboratório, as condições eram irreais, já que até mesmo substâncias como água sanitária poderiam ter um efeito semelhante em um ambiente controlado. Raoult, incapaz de sustentar suas alegações, optou por se aposentar logo após a publicação do controverso artigo.
O infectologista dinamarquês Ole Søgaard, do Hospital Universitário de Aarhus, enfatizou que o pior impacto do trabalho de Raoult foi desviar a atenção de medicamentos potencialmente eficazes e atrasar o desenvolvimento de terapias contra a covid-19 em um momento crítico de necessidade. Em suas declarações à Nature, Søgaard frisou que o "estudo foi claramente realizado às pressas e não atendeu aos padrões científicos e éticos comuns."
Por fim, a reputação da eLife também foi profundamente afetada, uma vez que a revista perdeu seu fator de impacto, uma métrica crucial que avalia a qualidade e relevância de publicações científicas. Este caso serve como um lembrete da importância da integridade na pesquisa científica e da necessidade de um escrutínio rigoroso antes da aceitação de estudos que podem ter impactos significativos sobre a saúde pública.